Título: Bancos captam US$ 606,5 milhões
Autor: Alessandra Bellotto
Fonte: Gazeta Mercantil, 25/08/2004, Finanças & Mercados, p. B-1

Bradesco lança US$ 50 milhões por dois anos; Votorantim, Unibanco e BB também emitem. A queda do risco Brasil e as baixas taxas de juros pagas pelos títulos do Tesouro americano propiciam a retomada das captações externas brasileiras. As operações de bancos no mercado internacional já chegam a US$ 606,5 milhões neste mês. O mais novo nome a integrar a lista de emissores é o Bradesco. O banco lançou ontem, sob a liderança do BES Investimento, US$ 50 milhões em títulos com prazo de vencimento de dois anos - o retorno ao investidor deve ficar entre 3,5% e 3,75% ao ano.

Nesta semana, o Unibanco também voltou ao mercado, a fim de levantar US$ 100 milhões em títulos lastreados em fluxos financeiros no exterior. Em andamento, destacam-se ainda captações de US$ 350 milhões do Banco do Brasil, lançada pela primeira vez em meados de julho, e de US$ 100 milhões do Banco Votorantim. Já o Banco Santos obteve US$ 6,5 milhões com a reabertura de uma emissão de US$ 18 milhões realizada em julho.

Às operações dos bancos, somam-se ainda uma emissão de US$ 30 milhões da Cath Empreendimentos e Participações, com prazo de um ano, e um empréstimo sindicalizado no montante de US$ 200 milhões para o Grupo Votorantim. O que significa um volume de US$ 836,5 milhões em agosto. No ano, as captações no mercado internacional somam US$ 6,3 bilhões. Para o estrategista da Global Invest Asset Management, Paulo Gomes, "as emissões podem chegar a US$ 12 bilhões neste ano". Ainda que inferior aos US$ 16,1 bilhões captados por bancos e empresas em 2003, o montante - se atingido - só se compara aos US$ 12,85 bilhões obtidos em 1997. Desde então - tirando 2003 -, o maior volume emitido foi em 2001, com US$ 7,51 bilhões, segundo dados da Global Invest.

De acordo com o consultor da Brazilian Business School (BBS), Alexandre Blas, o mercado para captações tende a melhorar. "O Brasil vivencia um momento de maior tranqüilidade", afirma Blas. Entre os fatores positivos, ele destaca o forte desempenho da balança comercial; a melhora do cenário político, com destaque para a vitória do governo na questão da taxação dos inativos; o recuo do risco Brasil e do dólar.

Blas acrescenta que o cenário atual também é favorável aos mercados emergentes. "Há bastante demanda por papéis de emergentes. O período de nervosismo que permeou o início da política de aperto monetário nos Estados Unidos já passou", disse. "Podemos estar em uma nova onda de captações", destacou.

Gomes lembra que o risco está em seu menor patamar desde fevereiro, o que diminui o custo das captações. Ontem, o prêmio de risco do Brasil recuou para 515 pontos; em agosto, acumula queda de 13%. "Esse é um excelente momento para emitir", disse.

Segundo o estrategista, o cenário melhorou neste semestre. Isso porque os juros americanos vão subir de maneira mais lenta do que se imaginava, uma vez que a economia dos EUA apresenta sinais de desacleração. Com isso, caiu o rendimento dos títulos do Tesouro americano de dez anos, levando a um redirecionamento dos investimentos para os emergentes.

A descaleração do dólar (cotado a R$ 2,957 ontem), segundo Gomes, também tem contribuido para o recuo da taxa de risco do País, assim como os fundamentos da economia brasileira e as especulações em torno da melhora da classificação do Brasil, depois do "upgrade" da Turquia. Ontem, porém, a Standard & Poor¿s reafirmou a nota do Brasil. A expectativa de que a taxa Selic não cairá tão rapidamente como se previa também é um estímulo para emissões externas, em detrimento das operações locais, na opinião do estrategista da Global. Gomes informa ainda que, dos US$ 18 bilhões em vencimentos privados no segundo semestre, estima-se que pelo menos 80% serão renovados.