Título: Lula defende assento, no CS da ONU, para país em desenvolvimento
Autor: Sheila Machado
Fonte: Gazeta Mercantil, 05/11/2004, Internacional, p. A10

No discurso de abertura da 18ª cúpula do Grupo do Rio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem um apelo explícito para que a reforma das Nações Unidas leve em consideração o esforço de multilateralismo que os países latino-americanos têm feito nos últimos anos. O presidente ressaltou a necessidade de um assento no Conselho de Segurança para um país em desenvolvimento. "O Brasil acredita na necessidade de renovação e de fortalecimento do CS da ONU. A presença de países em desenvolvimento entre seus membros permanentes é fundamental para assegurar a legitimidade e representatividade dos órgãos dedicados à segurança coletiva" - justificou Lula, no encontro entre 19 chefes de Estado, no Rio de Janeiro. "Nossa região tem um histórico compromisso com a solução pacífica de controvérsias".

A reunião dos chefes de Estado aconteceu ontem, mas os trabalhos da cúpula começaram na quarta-feira, com reuniões entre os chanceleres dos integrantes do Grupo do Rio. Eles preparam a declaração final que deve ser assinada pelos presidentes, hoje, quando termina o encontro oficial. O texto trará parágrafos sobre cooperação com o Haiti, a renovação do compromisso com o multilateralismo e consolidação da democracia nos países latinos e caribenhos, combate à fome e à miséria e apoio às conturbadas situações políticas vividas atualmente no Equador e na Nicarágua.

O caso mais recente deste comprometimento é a missão de paz da ONU no Haiti, a Minustah, comandada pelo Brasil, que conta com a participação de militares chilenos, peruanos e argentinos. "A Minustah é um exemplo de como a comunidade internacional e o Grupo do Rio levamos nossas declarações ao âmbito do concreto. Ela fortalece o multilateralismo", disse Lula. Lembrou que "a estabilização e a reconciliação são tarefas complexas, como a história do Haiti tem nos ensinado".

Segundo o presidente Lula, "a preocupação exclusiva com a manutenção da ordem não será suficiente para sustentar a democracia. É preciso que a comunidade internacional se mobilize para atender às necessidades prementes do povo". Toledo concordou: "não podemos falar de democracia quando há pobreza". Segundo o presidente peruano, para assegurar a liberdade é preciso que os países-membros do Grupo do Rio e a comunidade internacional optem pelo multilateralismo: "problemas globais pedem soluções de nível global". "Façamos do Haiti um exemplo de nossa disposição em combater as mazelas da fome e da pobreza", completou Lula. Hoje, além de mais uma reunião com os chefes de Estado, Lula terá encontros bilaterais com os presidentes do México, Vicente Fox, da Venezuela, Hugo Chávez, e da Bolívia, Carlos Mesa.

Missão no Haiti

O assessor especial da Presidência do Brasil para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, viaja amanhã para o Haiti para acompanhar o processo de estabilização do país caribenho. O objetivo da viagem é checar como estão os soldados brasileiros e começar a estudar áreas onde o investi-mento internacional pode ser melhor aplicado, dando resultados mais duradouros.