Título: Isolado, José Sarney defende permanência
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Gazeta Mercantil, 11/11/2004, Poítica, p. A-10

Nas três horas do encontro do PMDB ontem num hotel do Distrito Federal, o único que se levantou em defesa do governo e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Ao se manifestar contrário à convocação da convenção nacional do partido, marcada para o dia 12 de dezembro, Sarney justificou que a legenda não poderia tomar, em apenas 20 dias, uma decisão "atabalhoada" no calor das emoções. Disse que o partido apoiou todos os presidentes da República nos últimos anos e não poderia deixar de fazer o mesmo com Lula que, na opinião dele, é "um operário que está fazendo um governo de inclusão social, para os pobres, e um exemplo de biografia para todos os brasileiros".

Cara amarrada, contrariado com os rumos das discussões, sobre o desembarque ou não do governo, Sarney se absteve da votação da Comissão Executiva dizendo que foi convidado para uma reunião onde seria realizada reflexões sobre as eleições e debatido os rumos do partido para 2006. "Não estava preparado parado para essa discussão. Fui convidado para uma outra. Não vou votar", disse seguido por uma rápida vaia ensaiada por alguns peemedebistas: "Peço consideração para quem já foi presidente do PMDB e do País", acrescentou o senador do Amapá.

Ao final do encontro, Sarney disse discordar da saída do PMDB do governo por não haver espaço para o partido na oposição. Para o senador a independência, tese liderada pelo presidente da legenda, Michel Temer (SP), não existe. "Esse espaço já está ocupado pelo PSDB e PFL e independência não existe. Não dá para ficar em cima do muro. Ou se é governo ou oposição", afirmou.

Na avaliação da maioria dos peemedebistas presentes no encontro, Sarney foi o principal derrotado. Após seu discurso, a platéia ameaçou vaiá-lo.