Título: PMDB decide sobre saída da base do governo em dezembro
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Gazeta Mercantil, 11/11/2004, Poítica, p. A-10

Em encontro ontem que reuniu seis governadores do partido, as bancadas na Câmara e no Senado e presidentes de diretórios regionais, o PMDB seguiu o roteiro de um epílogo anunciado. Defendeu um projeto para o País, endureceu o tom em relação ao governo federal, ameaçou deixar os cargos que possui na administração federal mas transferiu a decisão para o dia 12 de dezembro. Nesta data, o partido fará uma convenção nacional e promete decidir definitivamente se permanece na base de sustentação ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso.

A cúpula nacional da legenda argumenta que a partir de agora tudo será diferente. Nada de barganha em troca de mais espaço ou aliança como parceiro preferencial do presidente Lula em 2006. Embora a reunião de ontem tenha evidenciado a divisão do partido entre forças antagônicas, segundo a direção do PMDB quem não respeitar o que for decidido na convenção, programada para daqui a 20 dias, estará sujeito as sanções disciplinares podendo chegar até a expulsão. Até o dia 5, os diretórios regionais deverão formalizar a sua posição. "Agora será diferente. Até porque estamos ouvindo todas as instâncias do partido. O que for decidido pela convenção será respeitado. Quem não obedecer será submetido às sanções previstas no estatuto do partido", disse o presidente nacional do PMDB, Michel Temer (SP).

O encontro durou três horas e foi dividido em duas etapas. A primeira metade a portas fechadas, período em que prevaleceram os discursos mais duros contra o governo. A segunda fase foi aberta e vários peemedebistas defenderam cautela e prudência em relação aos novos rumos do partido. Entre os oradores, a voz solitária em defesa do governo e de Lula foi a do presidente do Senado, José Sarney (AP) (leia texto abaixo).

Principal aliado do governo Lula no Congresso, o partido saiu do encontro dividido em três correntes: os que defendem a entrega dos cargos e saída da base - liderados pelos governadores Jarbas Vasconcelos (PE), Rosinha Matheus (RJ) e deputado Geddel Vieira Lima (BA). Há também a ala favorável a uma posição de independência, capitaneado por Michel Temer, e governadores Germano Rigotto (RS), Roberto Requião (PR) e Joaquim Roriz (DF). Por último, aparecem os governistas, alinhados com o presidente Lula, caso dos senadores Renan Calheiros (AL), José Sarney (AP) e Ney Suassuna (PB). "Há quem fale em independência. Mas independência em política não existe. Ou o PMDB é governo ou o oposição", afirmou o senador Renan Calheiros. Minutos depois, seu discurso era respaldado quase que nas mesmas palavras pelo ministro das Comunicações, Eunício Oliveira: "Independência não existe. De qualquer forma vamos para a convenção. Hoje aqui, não houve nenhum fato novo", afirmou o ministro.

Atualmente, o PMDB comanda dois ministérios -Comunicações e Previdência Social-, governa cinco Estados do País (RJ, PE, RS, PR e SC) e o Distrito Federal, tem 76 deputados --segunda maior bancada da Câmara- e 23 senadores -a maior bancada.

De acordo com o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, o apoio ao governo do presidente Lula não pode ser no formato do "vale mais o quanto pesa". "Não aguentamos mais a prepotência, os métodos, as práticas e a política econômica que está sendo orquestrada pelo PT. Cabe ao PMDB ir para a oposição e resgatar a sua identidade", bradou.

Temer disse, por sua vez, que dentro do que é o PMDB, a sigla é independente. "Esta posição não significa oposição."