Título: Crise nervosa marca sessão
Autor: Campos, Ana Maria ; Tahan, Lilian
Fonte: Correio Braziliense, 07/04/2011, Cidades, p. 29

Tendo como principal argumento de sua defesa a alegação de insanidade mental, a promotora de Justiça Deborah Guerner deu demonstração do que é capaz na sessão de ontem do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Teve um ataque de nervos durante o julgamento do processo no qual é apontada como comparsa de Leonardo Bandarra em denúncias de formação de quadrilha, corrupção e extorsão. Deborah só assistiu a 40 minutos da sessão. Quando saiu do auditório para discutir com seus advogados e com o marido, Jorge Guerner. Do lado de fora da sala, disparou gritos estridentes, xingamentos e ameaças. Enquanto se descontrolava, no entanto, o relator lia laudo pericial no qual consta que a promotora tem domínio sobre suas emoções, apesar de ser considerada incapaz para o serviço público.

Durante o tempo em que assistiu à sessão, Deborah ficou sentada na primeira fila, a poucas cadeiras de distância de Bandarra. A discrição durou até que se levantasse, enquanto o relator da comissão processante, Luiz Moreira, ainda lia o primeiro terço de seu voto, que durou pouco mais de três horas. Maquiada, com os vastos cabelos loiros escovados, cheia de joias, de sandálias estilo gladiadora de salto alto e vestida com um tailleur que remetia à minissaia, a promotora de Justiça dividiu as atenções, que até aquele momento estavam concentradas no relatório. Escoltada pelo marido e por um advogado, Deborah levantou-se e seguiu para o corredor do auditório. Mesmo com toda a imprensa em seu encalço, ela não se intimidou.

Deborah começou a falar em tom moderado, de difícil compreensão, pois o acesso à ala ficou impedido por seguranças. Em menos de dois minutos, porém, ela começou a berrar. ¿Eu quero ver só se eles vão acreditar naqueles dois bandidos, o¿ aquele¿ Durval e o Arruda ou na minha palavra, que sou promotora de Justiça¿, vociferou. ¿Cadê as denúncias contra os mensaleiros do DEM, cadê? Por que contra mim já apresentaram duas denúncias e contra eles nada, nada.¿ Alertada pelo marido sobre o tom impróprio para o desabafo ¿Deborah, isso vai lhe prejudicar¿, ela respondeu com um impropério: ¿Que se f¿.

Durante a leitura do voto que acatou o relatório final incriminando Bandarra e Deborah, Luiz Moreira fez referência a um trecho do laudo pericial apresentado pela defesa da promotora no qual ela é considera apta a controlar as próprias emoções. O advogado de Deborah, Pedro Paulo Guerra de Medeiros, pediu a suspensão do julgamento até que o processo de aposentadoria por invalidez da cliente fosse julgado. Sem ser atendido, o defensor criticou o recorte dado pelo relator, que se ateve à parte do documento na qual Deborah é considerada uma pessoa normal. ¿Ela foi considerada inapta para o serviço público¿, sustentou Pedro Paulo. Deborah deixou o CNMP com o marido, acompanhada ainda por dois brigadistas que atuam no prédio do conselho. Um deles até tentou acalmar Deborah com um copo d¿agua. Mas a promotora agiu com desconfiança: ¿O que tem nessa água, não quero ser dopada, viu?¿.

Passo a passo do processo

Março de 2010 O conselheiro Bruno Dantas faz pedido de sindicância ao CNMP para apurar o suposto envolvimento do ex-procurador-geral do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios Leonardo Bandarra e da promotora de Justiça Deborah Guerner na Operação Caixa de Pandora. Ele alegou, à época, que a Corregedoria do MP não teria condições de conduzir as investigações de forma isenta.

11 de maio O plenário do CNMP acata o pedido de Bruno Dantas e decide abrir sindicância contra os dois promotores. Desta forma, as apurações passaram a ser feitas pela Corregedoria Nacional do MP.

7 de junho O corregedor nacional apresenta ao CNMP voto recomendando a abertura de processo administrativo disciplinar contra os dois promotores e o afastamento de Bandarra do cargo de procurador-geral do MPDFT. O plenário do órgão colegiado decide instaurar o processo, mas mantém os dois acusados de corrupção nos respectivos cargos.

2 de agosto Após a instauração do Processo Administrativo Disciplinar (nº 1515/2009-73), o relator designado para o caso, o conselheiro Luiz Moreira, indica a comissão processante formada por três integrantes do Ministério Público para conduzir a apuração em 90 dias. Foram deferidas duas prorrogações do prazo inicial para a coleta de provas e oitivas das testemunhas e partes do processo.

13 de dezembro O plenário do CNMP decide afastar Bandarra e Deborah Guerner de suas funções por 120 dias ou até a conclusão do Processo Administrativo Disciplinar. Os dois promotores ficam impedidos de exercer qualquer função no MP, entrar nos gabinetes ou ter contato com os servidores. Durante o afastamento, ambos continuaram recebendo remuneração.

6 de abril de 2011 O relatório final produzido pelo relator vai a plenário. Ele pede a pena máxima para os acusados ¿ a demissão ¿, mas a análise do processo é suspensa devido a um pedido de vista.

17 de maio Data prevista para que o julgamento seja retomado pelo CNMP.

Opinião do internauta

Leitores comentaram no site do Correio as reportagens relacionadas à análise do processo contra Leonardo Bandarra e Deborah Guerner. Leia alguns trechos.

Marcos dos Santos ¿Enquanto nossas leis forem frouxas com os que deveriam fazer cumpri-las, veremos essas coisas em nossas instituições.¿

Leandro da Mata ¿Isso só prova que a seleção de concurso hoje em dia é só para tomar dinheiro, mas que não avalia bem o candidato.¿

João Ângelo ¿Duas coisas devem ser feitas: primeiro, expulsar da vida pública e, em segundo, confiscar os bens.¿ Manoel Barbosa ¿No desfecho, só quero saber o que vai acontecer com o Durval Barbosa. Há um forte cheiro de nada, diga-se pizza. Podem esperar para ver.¿ Eliano Lima ¿A julgar pelo tamanho da minissaia, é para desconfiar mesmo da sanidade desta senhora.¿ Salomão Feitosa ¿Então quer dizer que o Ministério Público aceita pessoas deficientes mentais para os seus quadros? Ela (Deborah Guerner) é concursada para a função de promotora.¿ Francisco Lima ¿A senhora achava que não seria alcançada pela Justiça?¿ Gil Braz ¿Esses são os homens e mulheres de bem da nossa sociedade?¿ Jonatas Fernandes ¿Por que toda autoridade pública do Brasil fica doente quando vai enfrentar punição da Justiça?¿

Francisco Bezerra ¿Virou moda. Bandidos endinheirados com assalto aos cofres públicos compram atestados médicos. Os culpados são os médicos.¿

Alessandro Paulo ¿Já perceberam que toda pessoa acusada tem problemas psicológicos?¿

Alexandre Souza ¿Agora ela é vítima? E o povo que teve seu dinheiro suado dos impostos roubado, é o quê?¿

Marcos Neves ¿Não existe justiça para ricos e pessoas tidas como autoridades do Judiciário.¿