Título: Produção deve subir 7% neste ano
Autor: Elmar Meurer
Fonte: Gazeta Mercantil, 25/08/2004, Indústria e Serviços, p. A-12
Reajuste de preços das matérias-primas e ociosidade atrapalham o desempenho do setor. A indústria brasileira de transformação de plástico ainda não sente os efeitos do reaquecimento da economia, comemorado por outros setores. Entre os fatores de alerta estão a ociosidade média de 25% e a perspectiva de aumento no preço das matérias-primas - empurradas pela cotação do petróleo no mercado mundial. A expectativa da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) é que o volume de produção cresça neste ano 7% em relação ao ano passado, quando foram transformadas no País 3,847 milhões de toneladas. "Entretanto, 2003 foi um desastre para o setor, com queda de 3,71% na produção. E há matérias-primas que já acumulam alta de até 50% neste ano", afirmou o presidente da Abiplast, Merheg Cachum.
"O mais preocupante agora é o que está por vir, com o preço do barril de petróleo perto de US$ 50. Tentamos fazer compras antecipadas, mas não adianta muito. Já fomos informados que a matéria-prima subirá 5% em setembro e mais 10% em outubro", disse Paulo Schmalz, presidente da Amanco, segunda maior fabricante de tubos e conexões de PVC do País, com receita bruta de R$ 454 milhões no ano passado. "Não temos como não repassar para nossos preços esses reajustes, pois as margens já estão estreitas. No caso de um tubo de PVC, a matéria-prima corresponde a 65% do custo. E isso acaba afetando as vendas", afirmou o executivo, justificando que sem a "bolha" nas cotações do petróleo o crescimento nas vendas poderia ser maior.
Se Schmalz considera novos aumentos nas matérias-primas algo inevitável, a Abiplast, por outro lado, faz lobby para tentar amenizar o problema. Cachum enviou nesta semana ofício à Petrobras pedindo para que ela "segure" os preços. "Se a nafta (matéria-prima básica do plástico) subir mais vai `arrebentar¿ o setor, pois as indústrias de transformação não conseguem repassar as altas com a mesma facilidade que os fabricantes de resinas o fazem", disse Cachum, que participou ontem da abertura da Interplast 2004 - Feira e Congresso Nacional de Integração da Tecnologia do Plástico, em Joinville (SC). Ele se refere à diferença no poder de barganha dos diferentes elos da cadeia produtiva. A indústria petroquímica, que fabrica a resina, é concentrada, enquanto a de transformação, que faz os produtos finais que chegam ao consumidor ou que são usados por outras indústrias, é composto por 7.898 empresas, segundo dados do Ministério do Trabalho.
Nos mesmos níveis de 2002
Conforme Cachum, as indústrias que estão ligadas aos setores exportador e agropecuário são as únicas que estão "razoavelmente bem". Entre elas estão as que fornecem plásticos para a indústria automotiva e as fabricantes de embalagens. "O momento é de crescimento, mas não para soltar fogos".
A Tigre, que no ano passado faturou R$ 1,22 bilhão, prevê que neste ano vai elevar o volume transformado entre 5% e 7% em comparação a 2003. No primeiro semestre, a empresa anunciou lucro líquido de R$ 30,3 milhões, quase o mesmo do que o apurado em todo o ano passado (R$ 35,3 milhões). Redução das despesas e crescimento das exportações e dos negócios nas fábricas instaladas fora do País estão entre as justificativas apresentadas pela companhia para a melhora do lucro.
A projeção de crescimento da Tigre está em linha com a feita por sua rival. No primeiro semestre a Amanco elevou o volume produzido em 8% em relação ao mesmo período do ano passado e a expectativa é que o resultado anual se mantenha próximo disso. Significa voltar aos níveis de produção de 2002. Já para 2005, de acordo com Schmalz, há expectativas mais positivas para a retomada das vendas nos segmentos de construção civil e de infra-estrutura. No momento, contudo, a ociosidade das fábricas da companhia ainda está em torno de 40%. "Em 1997 as grandes players do setor de PVC previram que a curva de crescimento das vendas se manteria e investiram pesado na ampliação da capacidade. Isso não se confirmou e a capacidade só deverá ser ocupada em 2007", explicou Schmalz.
Em Santa Catarina não é só a Amanco que está com capacidade ociosa acima da média nacional do segmento plástico. A média da ocupação das fábricas do setor no estado é de 68,1%, a mais baixa de toda a indústria, de acordo com a Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc).