Título: Álcool brasileiro já desperta temores
Autor: David Brough/Reuters
Fonte: Gazeta Mercantil, 10/11/2004, Energia, p. A-7

Consultoria sugere que outros países invistam na produção para evitar elevação de preços. A consultoria alemã F.O. Licht informou ver riscos no domínio brasileiro sobre o fornecimento mundial de álcool, e acredita que outros países da América do Sul e da África meridional poderiam emergir como produtores de cana-de-açúcar para produção de álcool. Atualmente, os produtores brasileiros desenvolvem esforços para abrir novos mercados para o combustível, de olho especialmente na China, Japão e India.

A demanda por álcool combustível, derivado da cana, grãos ou biomassa, está crescendo como alternativa para o petróleo. O Brasil é responsável por em torno de 50% da oferta de álcool do mundo. No país, 85% da produção é concentrada no Estado de São Paulo, onde a cana também é aproveitada alternativamente para a produção de açúcar. O bagaço, seu principal resíduo é utilizado na geração de energia ou como ração animal.

Mais investimentos

A consultoria aponta possíveis aumentos dos preços do álcool caso a produção continue excessivamente concentrada no Brasil. "Não há dúvidas de que o Brasil está apto a produzir mais álcool, mas os custos subirão já que as melhores terras já estão sendo cultivadas", afirmou o diretor da Licht, Christoph Berg, em uma conferência de álcool realizada em Londres.

Segundo ele, países como a Bolívia, Argentina, Peru e a África do Sul podem explorar mais a produção de cana, e adverte que fortes investimentos de parte de outros países produtores que não o Brasil são necessários. "Que empresário prudente colocaria todos os seus ovos em uma só cesta?", indagou.

A produção global de álcool deve crescer em um ou dois bilhões de litros, para cerca de 42 bilhões em 2005, acompanhando o aumento da demanda por alternativas ao petróleo. Berg prevê a produção total em 40 bilhões de litros em 2004, acima dos 38 bilhões de 2003, acrescentando que 70% da produção é para combustível.

A demanda por álcool vem crescendo pesadamente nos Estados Unidos, Europa e Brasil, onde a alta dos preços da gasolina estimulou os brasileiros a comprarem veículos com motores flexíveis.

Para Berg, a porcentagem de cana-de-açúcar destinada à produção de álcool, hoje em 50%, deve aumentar, principalmente se os preços do petróleo continuarem subindo e se a demanda por carros bicombustível permanecer alta.