Título: Governo brasileiro reduz investimentos em estação internacional
Autor: Virgínia Silveira
Fonte: Gazeta Mercantil, 25/08/2004, Telecomunicações & Informática, p. A-14

O Brasil manteve a sua participação no projeto da Estação Espacial Internacional (ISS), mas reduziu sua contribuição de US$ 120 milhões para cerca de R$ 27 milhões, que serão investidos pelo governo ao longo dos próximos quatro anos. Os recursos vão pagar o desenvolvimento de um equipamento, em vez dos seis itens previstos no acordo inicial, assinado com a agência espacial americana, a Nasa, em 1997.

Conhecido pela designação técnica de FSE (Flight Suport Equipment), o equipamento será utilizado para transportar e armazenar os itens necessários à manutenção da estação em órbita. No novo acordo assinado entre AEB e a Nasa no final do ano passado, está prevista a construção de 32 unidades do equipamento FSE.

Cada equipamento, que pesa em torno de 150 quilos e mede entre 38 e 51 polegadas, é composto de uma placa adaptadora, uma proteção térmica e itens específicos de adaptação para os sistemas que serão transportados.

Segundo o gerente do Programa Brasileiro da Estação Espacial, Petrônio Noronha de Souza, o direito de utilização da ISS por pesquisadores brasileiros e o vôo do astronauta Marcos Pontes estão garantidos, embora numa escala mais reduzida e proporcional aos investimentos que serão aplicados pelo Brasil. O presidente da AEB, Sérgio Gaudenzi, disse que para 2004 o projeto da ISS já tem garantidos recursos da ordem de R$ 6 milhões.

O Inpe, responsável pelo gerenciamento técnico do projeto, já recebeu da Nasa a documentação do equipamento FSE. "A nossa expectativa é que até o final deste ano ou no início de 2005 possamos abrir a licitação para contratar as empresas que participarão do desenvolvimento do equipamento", disse Souza. Em março deste ano, o Inpe apresentou para um grupo de 13 empresas do setor aeroespacial brasileiro as características técnicas do novo equipamento.

"O objetivo do encontro com a indústria foi o de promover uma sessão de esclarecimento sobre o equipamento e dar maior transparência ao processo", disse. No novo modelo de participação do Brasil no projeto da ISS, segundo Souza, não haverá mais a figura do "prime contractor", que era exercida pela Embraer, contratada na primeira fase do projeto para gerenciar a fabricação dos equipamentos da estação.

A participação do Brasil na estação espacial ficou ameaçada em 2001, com a decisão de descontinuar o projeto, porque o orçamento para fabricar os equipamentos, feito pela Embraer, superou os valores previstos no acordo original com a Nasa. "A partir de 2002 iniciamos uma busca de alternativas para manter a participação brasileira no projeto e em 2003 a opção de fazer o FSE foi materializada com a assinatura de um novo acordo com a Nasa", explicou.

O Brasil é o único país em desenvolvimento a integrar o grupo de 16 nações empenhadas na construção do maior laboratório espacial do mundo, orçado em US$ 100 bilhões. Projetada para permanecer no espaço até 2017, a ISS apoiará pesquisas científicas e técnicas, permitindo que se acelerem o andamento de descobertas e invenções para aplicação nas áreas de meio ambiente, clima, novos materiais, medicina. Situada a 350 quilômetros da Terra, a Estação pesará 450 toneladas.

Até abril deste ano cerca de 40 vôos até a ISS já haviam sido realizados para a montagem de 14 estruturas principais da estação, com peso estimado de 187 toneladas. Oito tripulações já estiveram na ISS, desenvolvendo 322 horas de atividades extraveiculares e 148 experimentos científicos. A previsão da Nasa é que a montagem da estação esteja concluída por volta de 2010. O cronograma de construção da ISS mudou depois da suspensão dos vôos do ônibus espacial americano, depois do acidente com a nave Columbia, em fevereiro de 2003.

Ao participar do projeto, o Brasil terá a oportunidade de usufruir de infra-estrutura para a realização de pesquisas em ambiente de microgravidade em várias áreas, como crescimento de cristais para o desenvolvimento de vacinas contra doenças como o mal de Chagas e dengue.