Título: Jintao assina acordos e quer o reconhecimento brasileiro
Autor: Fernando Exman
Fonte: Gazeta Mercantil, 12/11/2004, Nacional, p. A-5
Status de economia de mercado à China preocupa empresários. A escolha do Brasil como primeiro país a ser visitado pelo presidente da China, Hu Jintao, na viagem à América do Sul é vista, pelo Itamaraty, como sinal de prestígio e reconhecimento da liderança brasileira na região. Jintao chegou ontem em Brasília, permanece na capital até sábado, e visita as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo entre domingo e terça-feira.
Além do encontro privado que terá hoje pela manhã com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto, onde devem ser assinados 11 acordos, ele participa de sessão solene conjunta, à tarde, no Congresso Nacional. "Nesta sessão, haverá um breve discurso em que o presidente chinês anunciará, pela primeira vez, a política externa da China para a América Latina", disse o diretor do Departamento da Ásia e Oceania do Ministério das Relações Exteriores, Edmundo Fujita.
Do Brasil, os chineses aguardam o reconhecimento do país como economia de mercado mas, segundo o diretor do Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty, Mário Vilalva, "o assunto é muito complexo", e o Brasil ainda não tem uma posição definida. Vilalva lembrou que a economia chinesa, que ele qualificou como de transição, ainda sofre forte interferência do Estado, inclusive no controle de preços e na fixação do câmbio. "Para a China, isso tem um valor político muito grande", disse o embaixador.
Empresários preocupados
O empresariado brasileiro está preocupado com a possibilidade de o governo brasileiro reconhecer a China como uma economia de mercado. A avaliação é do presidente da Câmara Brasil-China de Desenvolvimento Econômico, Paul Liu. Se conferir esse status, o Brasil terá que revisar as barreiras antidumping impostas a certos produtos chineses. "É um assunto delicado. Há receio da entrada agressiva de produtos chineses no Brasil", disse Paul Liu. No entanto, ele considera provável que o Brasil acabe seguindo o movimento de outros países e concorde com o pedido chinês. Até hoje 20 países já reconheceram a China como uma economia de mercado, entre eles Austrália e Nova Zelândia.
A principal conseqüência para o Brasil ao declarar a China uma economia de mercado é a perda do direito de defesa da indústria frente importações chinesas que pratiquem dumping ¿ venda de produtos abaixo do preço de custo.
Em São Paulo, Jintao visita o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em São José dos Campos (ver matéria nesta página).
A visita a São Paulo, que acontece no dia 15, contará ainda com reuniões com o governador Geraldo Alckmim, e encontros com a comunidade chinesa na cidade. Antes disso, no domingo, a missão chinesa vai ao Rio de Janeiro, onde será recebida pela governadora Rosinha Matheus e também manterá encontros com a comunidade chinesa. No dia 16, Jintao e sua comitiva embarcam para a Argentina. Fazem parte do roteiro, ainda, visitas a Cuba e ao Chile.
US$ 2 bi para infra-estrutura
O vice-presidente da chinesa Citic, Wang Gouxing, anunciou ontem em Brasília a disponibilidade de investir US$ 2 bilhões em dois projetos de infra-estrutura do Brasil. Um deles é a ferrovia Norte-Sul (do Maranhão a Goiás) e o outro é a melhora Porto de Taqui (Maranhão). Esse volume pode aumentar, mas ainda depende da aprovação do projeto das Parcerias Público-Privadas (PPPs) pelo Congresso Nacional. O ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, Guido Mantega estima que o volume de recursos a aportarem no país provenientes da China pode ficar entre US$ 4 bilhões e US$ 5 bilhões, volume considerado "nada" pelo ministro, que lembrou que as reservas internacionais chinesas são de US$ 440 bilhões.
"Estamos abrindo a temporada de negócios entre Brasil e China", disse Mantega. Ele lembrou que a intenção dos representantes da Citic é financiar os projetos para empresas brasileiras que vão gerenciar as ferrovias ou rodovias.