Título: China é desafio instigante, diz Piva
Autor: Dimalice Nunes
Fonte: Gazeta Mercantil, 18/08/2004, Nacional, p. A-6

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Horacio Lafer Piva, disse ontem que é "um instigante desafio entender esse gigante", referindo-se à China e às dificuldades na relação entre os dois países. "Há um belo caminho pela frente, mas precisa de uma visão mais certa para compreender a Ásia", afirmou Piva, durante a abertura do seminário "O papel da China na economia mundial e os impactos para a indústria nacional", promovido pela entidade e pelo Economist Intelligence Unit (EIU), em São Paulo.

Para Piva, há boa vontade dos dois lados em ampliar os laços entre Brasil e China, e existem boas propostas chinesas, mas "algumas desconfianças permanecem, principalmente à respeito das práticas comerciais", disse. No entanto, "é uma preocupação natural e, para evitar preconceitos, é preciso uma análise concreta dos riscos da troca comercial entre os dois países", disse Horacio Piva.

Na visão dele, apenas nos últimos meses a opinião pública descobriu a China e os dois países souberam enxergar suas atrações e complementariedades. A falta de mão-de-obra especializada já figura entre os principais problemas que empresas estrangeiras levam em consideração quando pensam em investir na China.

Segundo o economista-chefe do EIU, Paul Cavey, que é especialista em Ásia e foi um dos palestrantes do seminário, além da falta de profissionais especializados, o custo deles é muito alto. "É um paradoxo, pois a oferta de mão-de-obra sempre foi um forte atrativo da China. Os operários continuam ganhando pouco, mas especialistas são muito valorizados", explicou.

Outro problema visto pelos investidores e citado por Cavey são os de infra-estrutura. "Apesar de ter havido uma forte melhora nos últimos anos, em especial em transporte e telecomunicações, a infra-estrutura ainda é insuficiente", afirmou. "Há escassez e racionamento de eletricidade em todo o país. Há shoppings que ficam com o ar-condicionado ligado duas horas para cada três desligado", disse Cavey.

O economista citou ainda os problemas ambientais, que consomem todo ano 12% do Produto Interno Bruto (PIB) chinês. "Dez das cidades mais limpas do mundo estão lá, e, grande parte do território tem problema grave de chuva ácida". Esses problemas são conseqüência principalmente da industrialização acelerada e da urbanização da população. "Por ano a população nas áreas urbanas cresce 4%, enquanto nas rurais o crescimento é de 0,5%", disse Cavey. Por outro lado, o mesmo dado de urbanização da população é uma nova realidade que aciona o consumo, acrescentou o economista.

Ao contrário do que muitos acreditam, os responsáveis pelos US$ 50 bilhões de investimentos externos ao ano na China não são o seu enorme mercado consumidor ou o custo da mão-de-obra, disse Cavey, acrescentando que o sucesso das exportações e a importância que a China ganhou no cenário internacional atraíram investimentos, além da rápida melhora na infra-estrutura, em especial de telecomunicações e transportes nos últimos anos.