Título: O mercado nacional poderá dobrar
Autor: Regiane de Oliveira
Fonte: Gazeta Mercantil, 12/11/2004, Comércio & Serviços, p. A-10

"Olhem os produtos de marca própria: eles são uma boa oportunidade de negócio". O recado foi transmitida por Rodolpho de Freitas Neto, diretor de marca-própria do grupo Pão de Açúcar, durante o seminário "Marcas próprias: tendências e modelos de implantação", promovido em São Paulo pela Fundação Getúlio Vargas.

Atualmente as marcas próprias respondem por 5,6% das vendas no varejo. O resultado ainda é tímido quando comparado aos da Grã-Bretanha (36,5%) e França (26,5%). Para Freitas, estas participações podem se tornar uma realidade também no Brasil.

"O mercado de marcas próprias pode dobrar, mas precisará de uma mudança cultural na cadeia de suprimentos", observa o executivo. E não se trata de alterações somente no varejo: a indústria também terá que encarar os produtos como uma oportunidade.

Segundo Freitas, apesar do crescimento da participação das marcas próprias no comércio, ainda é dificil encontrar fornecedores interessados em investir neste segmento: "A maior parte das indústrias prefere concorrer com grandes empresas, como a Unilever, do que fornecer marca própria". Ele cita como exemplo desse problema a categoria leite condensado. "Não temos quem faça este produto para marca própria".

Freitas reconhece, porém, que o varejo tem uma parcela de culpa: "Historicamente, o varejo errou muito". Principalmente nas primeiras experiências com estes produtos, ainda na década de 70, quando os supermercadista priorizavam a política de primeiro preço (produtos de segunda categoria, mas com valor competitivo) nas negociações com a indútria.

Hoje, a realidade é diferente. "No Pão de Açúcar, a marca própria é vista numa estratégia a longo prazo. Isso garante condições para a indústria investir", ressalta.

ASR

Representantes da indústria também concordam que o País está caminhando para a criação de fornecedores especializados em produtos com marca própria.

Segundo Rui Dzialoschinsky, vice-presidente para a América Latina da ASR (American Safety Razor Company), o problema do País, porém, não é falta de fornecedores. "Na categoria de produtos de consumo temos várias indústrias que podem competir em tecnologia com o mercado internacional", afirma. "O que falta é o varejo criar condições que justifi-quem o investimento dessas empresas." Entre estas condições, destaca ele, está o compromisso de não quebrar os contratos. Trata-se de uma prática muito utilizada para a negociação de preço.

O comprometimento tem uma razão: para muitas indústrias, principalmente as pequenas, o fornecimento de marcas próprias pode significar o faturamento do mês. Mas Dzialoschinsky é otimista: "A equação de negociação, atualmente, não é baseada apenas em preço. Precisamos ter qualidade, bom serviço e continuidade."

A ASR é uma empresa multinacional que atua na fabricação de marca própria de lâminas de barbear para o varejo. No Brasil a empresa produz para os supermercados Sendas, do grupo Pão de Açúcar, para a rede Carrefour e para o Bompreço (Wal-Mart). Possui ainda a marca Persona de lâminas de barbear, concorrente dos produtos da Gilette e Bic.

No Brasil, a marca Persona responde por 75% do faturamento da empresa, contra 25% dos produtos com marca próprias. De acordo com Dzialoschinsky, isto se deve à baixa concentração do varejo brasileiro na categoria de produtos como lâminas de barbear.

Ele afirma que a diversidade do mercado faz com que o desenvolvimento de produtos de marca própria ainda seja pequeno no pequeno comércio. E não porque as empresas não se interessem por produtos exclusivos. "A grande indústria não tem como atender depequenas solicitações que não justifiquem o investimento."

A terceirização de produtos para pequenas indústrias é uma das soluções apontadas por Dzialoschinsky. Mas não a única. A ASR está desenvolvendo, juntamente com a Abras e outros fornecedores, um projeto de marcas próprias para associações de redes de varejo, como as centrais de compras.