Título: Proteção urgente
Autor: Sarapu, Paula ; Rafael Alves
Fonte: Correio Braziliense, 08/04/2011, Brasil, p. 6

Especialistas defendem instalação de equipamentos de vigilância nas escolas

A discussão sobre a necessidade de instalar meios que protejam a integridade dos estudantes ganhou visibilidade depois do ataque de ontem na escola Tasso da Silveira. Na Câmara dos Deputados tramita pelo menos um projeto que obriga a instalação de aparelhos de raios x nos estabelecimentos de ensino públicos e privados. Mas, no Rio de Janeiro, onde ocorreu a tragédia, a única proposta dessa natureza em estudo pela Assembleia Legislativa foi arquivada no ano passado. Especialistas da área de segurança e violência defendem que, a partir do que houve em Realengo, os governos adotem medidas urgentes para evitar novos incidentes.

¿A escola não pode ser um local trancado, as crianças têm que ser livres, mas precisa haver controle nas entradas dos estabelecimentos¿, observa Daniel Sampaio, delegado aposentado da Polícia Federal e especialista em operações especiais. Segundo ele, o poder público já deveria ter tomado providências para evitar fatos como o que ocorreu em Realengo. ¿O brasileiro tem a mania de fechar a casa só depois que o caso ocorreu¿, diz o policial, criador do Comando de Operações Táticas da PF. Uma das alternativas, segundo ele, é a instalação de detectores de metais na entrada das escolas.

Para Irenaldo Lima, presidente do Sindicato das Empresas de Segurança Privada, Sistemas de Segurança Eletrônica e Transporte de Valores no Distrito Federal (Sindesp-DF), não há segurança nas escolas brasileiras. Além disso, Lima ressalta que os planos de segurança para os estabelecimentos são falhos e muitas vezes não geram resultados. ¿O que deveria ser feito pelos estados e prefeituras é pegar um gestor em segurança pública para fazer um planejamento, antes de lançar a licitação para a contratação de vigilância¿, diz o sindicalista, outro defensor dos detectores de metais nas instituições de ensino. ¿Se um aluno ou outra pessoa vir a revista com o aparelho e estiver com alguma coisa, nem entra na escola¿, explica Lima.

Nos últimos 10 anos, cerca de 320 pessoas ¿ entre estudantes, professores e funcionários de escolas ¿ foram assassinadas nos Estados Unidos em atentados semelhantes ao que ocorreu ontem no Brasil. Apesar das leis do país do Hemisfério Norte serem mais brandas em relação à aquisição e armas e munições, o governo determinou a instalação de detectores de metais nos estabelecimentos de ensino. Uma medida que, segundo o coordenador da organização não governamental (ONG) Viva Rio, Antônio Rangel Bandeira, já deveria ter sido tomada. ¿Pesquisas mostram que em muitas escolas da periferia existe a possibilidade de o aluno andar armado. É necessário haver uma vigilância maior nas escolas e um detector de metais não custa caro¿, afirma Rangel.

O projeto que tramita na Câmara determina: todas as pessoas que entrarem em uma escola devem passar por um detector de metais e seus pertences passam por um aparelho de raios x. Na justificativa, o deputado Sandro Mabel (PP-GO) afirmou que existe uma onda de violência nas escolas brasileiras, onde alunos, professores e funcionários são agredidos com facas e armas de fogo, entre outros objetos. ¿Está comprovado, com fundamento na experiência em segurança pública, que os detectores de metais podem coibir a entrada de objetos que sirvam de apoio ao cometimento de atos infracionais¿, escreveu Mabel na proposta.

Imprevisível O presidente do Instituto Brasileiro de Inteligência Criminal, George Felipe Dantas, analisou que a prevenção para o crime cometido por Wellington Menezes é praticamente inócua. ¿É algo absolutamente imprevisível¿, diz Dantas, outro defensor de equipamentos de segurança nas escolas. ¿Já é tempo de considerarmos, à medida que os outros países estão fazendo o mesmo, colocar detetores de metais nos estabelecimentos¿, afirma o especialista, que classifica o assassino como um psicótico, como é definido o criminoso que se julga visionário.

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante, recomenda cautela na discussão sobre o tema, para que depois se passe a definir medidas de combate à violência. ¿É preciso refletir com mais profundidade¿, diz ele, acrescentando que a questão dos detectores de metais é uma realidade mais próxima do Rio do que de outras regiões. Mesmo assim, ele prefere debater outras maneiras para resolver o problema de segurança nas escolas. ¿Temos que ter tranquilidade para o debate, mas antes de tudo precisamos reforçar os padrões morais, diminuir a participação de nossas crianças em eventos de violência.¿

Manifestação O Sindicato Estadual dos Professores de Educação do Rio vai fazer uma manifestação hoje pela manhã, em frente à Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, para denunciar a situação dos educadores do município. ¿As escolas estão abandonadas e cargos foram extintos, como os de inspetores, pessoal de portaria e orientadores educacionais. Só tem pessoal na sala de aula, as escolas estão expostas à violência¿, disse a diretora da entidade, Luciana Mello. Ele afirma que a manifestação é para chamar a atenção das autoridades para o que ocorreu ontem. ¿Hoje, o que menos acontece na escola é o aprendizado e o que se espera numa situação como essa é que as pessoas fiquem indignadas¿.

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