Título: Dilma chora ao falar do ataque
Autor: Sarapu, Paula ; Rafael Alves
Fonte: Correio Braziliense, 08/04/2011, Brasil, p. 6

Em discurso improvisado, presidente lamenta mortes de crianças. a pedido da petista, Ministra dos direitos humanos visita hospital

A notícia de que um atirador havia matado estudantes em uma escola pública do Rio de Janeiro sensibilizou a presidente Dilma Rousseff. Assim que chegou ao Palácio do Planalto, ontem de manhã, Dilma foi informada pela ministra da Secretaria da Comunicação Social, Helena Chagas, ainda na garagem do edifício, que um homem havia entrado em uma escola da Zona Oeste do Rio e almejado várias crianças. Até aquele momento, poucos dados sobre a quantidade de mortos e feridos. Com isso, a presidente seguiu sua agenda normalmente e o primeiro encontro, marcado às 9h30, com o governador do Amazonas, Omar Ozir, foi iniciado. No decorrer da reunião, porém, novas informações chegavam. O prefeito do Rio do Janeiro, Eduardo Paes, foi quem telefonou para a presidente e detalhou a tragédia.

A agenda da Presidência previa, às 11h, a participação da presidente na cerimônia comemorativa de 1 milhão de empreendedores inscritos no programa microempreendedor individual, no Salão Nobre. A área estava lotada de convidados, incluindo os homenageados, ministros e parlamentares. Porém, com os acontecimentos do Rio de Janeiro, o evento começou com cerca de 50 minutos de atraso e a programação original foi alterada. Enquanto não se iniciava a cerimônia, o porta-voz da Presidência, Rodrigo Baena, informou aos jornalistas que a presidente estava chocada e consternada com a tragédia e que acompanhava o caso com ¿grave preocupação¿.

Às 11h50, Dilma desceu a rampa inter na do terceiro andar ¿ onde fica o gabinete presidencial ¿ e chegou ao Salão Nobre, no segundo andar, visivelmente abalada. Ela começou o discurso falando que ¿hoje deveria ser um dia de muita festa pelo fato de estarmos comemorando o número de 1 milhão de empreendedores no programa que leva desenvolvimento, independência e autonomia às pessoas¿. E, em seguida, desabafou.

¿Eu não vou fazer discurso porque nós hoje temos que lamentar. Por isso considero que todos nós estamos unidos no repúdio a esse tipo de violência, sobretudo com crianças indefesas. Encerro o meu pronunciamento homenageando crianças inocentes que perderam a vida neste dia, lá em Realengo, e proponho um minuto de silêncio para que nós mostremos a nossa homenagem a esses brasileirinhos que foram retirados tão cedo da vida¿, disse, já com a voz embargada e lágrimas nos olhos. A fala de Dilma, improvisada, durou oito minutos.

Outro evento, que não estava previsto na agenda, fez a presidente retornar ao Salão Nobre. A presidente Dilma resolveu receber mulheres do Movimento dos Atingidos por Barragens, que entregaram liusta de reivindicações para mudar o modelo energético do país. A audiência começou com mais um minuto de silêncio e a presidente aproveitou para reforçar o repúdio ao ato de violência: ¿É um dia triste para os brasileiros. É inadmissível violência em geral, mas contra as crianças é algo que coloca todos nós numa situação de grande repúdio e numa situação de grande sentimento.¿ Ontem à tarde, a presidente decretou luto oficial de três dias. Até o fechamento desta edição, ainda não havia informações sobre a ida de Dilma ao Rio para acompanhar o velório.

A pedido de Dilma, a ministra da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, Maria do Rosário, foi ao Hospital Albert Schweitzer, em Realengo, na noite de ontem. Até o fechamento desta edição, cinco estudantes permaneciam internados.