Título: Alternativas para a falta de petróleo
Autor: Albert Fishlow
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/08/2004, Opinião, p. A-3

O preço do petróleo tornou-se o principal objeto de interesse na economia internacional durante o último mês. Como deveria. Afinal, o preço do petróleo aumentou quase 60% de um ano para cá e cerca de US$ 10 o barril desde o fim de junho. Finalmente, com a economia norte-americana em desaceleração nos meses recentes, a questão de uma nova recessão - como as de 1974-75, 1981-82 e 1990-91 - provocada por preços petrolíferos muito mais elevados emergiu repentinamente. Stephen Roach, do Morgan Stanley, foi notícia ao sugerir que tudo o que será preciso são três a seis meses de preços que permanecem nos níveis atuais. Até o público em geral está hoje profundamente envolvido - não passa um dia sem um novo relato de ataques no Iraque ou um corte de 4,5% da produção da gigante petrolífera russa Yukos em 2004. Estamos entrando em um novo período em que continuarão a predominar preços mais altos. Há duas opiniões bem diferentes sobre esse ponto. Algumas pessoas consideram que um preço de US$ 50 ou mais por barril se prolongará ao futuro indefinido. Outras sustentam que o que estamos vendo é uma bolha especulativa e que os preços chegarão, em média, a US$ 25 o barril no próximo ano. De fato, um infeliz perito em prognósticos financeiros (e, portanto, não identificado aqui) sugeriu há poucos meses um preço de somente US$ 11,80 em dezembro deste ano. Quais desses futuros distintos está correto? Os que defendem o prosseguimento dos altos preços ressaltam a falta de novos investimentos na última década, enquanto os atuais suprimentos atuais definham. Pode ser verdade, como todos reconhecem, que o recente mercado foi impulsionado pelas ameaças ao fornecimento que emanaram do Iraque, da Rússia e até da recém-concluída eleição venezuelana. Mas existe uma realidade mais profunda. Uma estimativa indica que US$ 2,4 trilhões em investimentos em nova prospeção petrolífera - cerca de três vezes a soma aplicada na década de 1990 - serão exigidos durante a próxima década para atender a demanda crescente. Para restituir essa quantia substancial, preços de petróleo mais altos terão de ser cobrados. E evidentemente, depois disso, custos ainda maiores terão de ser cobertos. No outro lado, uma conceituada firma de investimentos argumenta que os atuais preços petrolíferos refletem as crescentes pressões especulativas, a ponto de estarem US$ 18-US$ 22 o barril além do que indica a oferta e procura subjacente. A base é uma demonstrada ruptura na relação história entre o preço do petróleo e os níveis de estoque. Isso, exceto uma grande interrupção de suprimento, deverá provocar em breve uma queda dramática dos preços. A prazo mais longo, a substituição das reservas vem excedendo a utilização, e os custos de desenvolvimento foram inferiores aos níveis em fins dos anos 80 e no começo dos 90. Suspeito que a última opinião se aplica ao curto prazo, enquanto a primeira é valida para prazo mais longo. Há uma verdade fundamental: somente um fornecimento finito de petróleo está à nossa disposição e o consumo mundial cresce a ritmo constante. Ao que parece, atualmente podemos atender a uma demanda diária mundial de cerca de 80 milhões de barris, com um consumo de cerca de 25% pelos Estados Unidos, dois terços na forma de combustível para carros, caminhões e aviões. Mas a China e outros países crescerão rapidamente nos anos vindouros e isso se traduz em demanda cada vez maior, não igualada por suprimento de baixo custo. Em determinado ponto, seja daqui a cinco ou 30 anos, confrontaremos com um fim às novas descobertas. E, então, perguntaremos por que fomos todos tão iludidos, acreditando que nunca enfrentaríamos escassez. Esse novo mundo não precisa ser tão ruim. Há abundância de xisto betuminoso. Alberta, no Canadá, teria o equivalente superior a 1,6 trilhão de barris de petróleo, quase ao nível das reservas remanescentes de petróleo comum. A Venezuela tem seus próprios depósitos de "petróleo pesado", que novamente se tornaram tema de interesse. Outras fontes de energia também florescerão, como solar e nuclear, com esta última sendo capaz de produzir hidrogênio para veículos com célula de combustível. Os preços mais altos, como aconteceu no passado e ocorre hoje, servirão para limitar o consumo. Mas a prazo mais curto há poucas dúvidas de que a especulação afeta muito os preços de mercados correntes. Os preços estão altos demais e, como outras experiências semelhantes, seja a de tulipas holandesas historicamente ou o caso mais recente de ações de empresas da internet, eles poderão declinar em breve para refletir a realidade. Até a Opep está mostrando disposição de ajudar. O hiato entre a atual demanda e oferta não cresceu enormemente durante os últimos meses para justificar tal elevação de preço. A verdadeira dúvida é se vai exigir novamente uma grande redução da atividade econômica, como ocorreu no passado, para essa expectativa se concretizar. Outras fontes de energia também florescerão, como a solar e a nuclear