Título: Acesso do café ao mercado global
Autor: Earl Anthony Wayne
Fonte: Gazeta Mercantil, 16/11/2004, Opinião, p. A-3

O café é o segundo maior empregador do setor agrícola do Brasil. Muito provavelmente você está lendo este artigo no jornal durante seu café da manhã.

Isso também é uma rotina comum nos Estados Unidos. Na qualidade de maiores importadores mundiais de café, consumimos uma grande quantidade do produto proveniente de várias partes do mundo, inclusive do Brasil. Apesar de os EUA importarem cada vez mais café, estamos cientes de que muitos países produtores sofrem as conseqüências do maior achatamento de preços de que se tem memória. Embora o preço do café à venda nos EUA tenha subido bastante desde o início dos anos 1990, o cafeicultor médio viu sua receita cair pela metade durante o mesmo período.

No mês passado, os Estados Unidos adotaram uma importante medida que demonstra nosso compromisso com a promoção do desenvolvimento dos países produtores de café. Anunciamos nossa intenção de participar novamente da Organização Internacional do Café (OIC), órgão mundial que facilita o diálogo entre países produtores e países consumidores de café. Ao voltar à OIC, os EUA estão determinados a incentivar as discussões e as ações relativas à produção sustentável do café para beneficiar cafeicultores e consumidores. Os EUA terão um papel construtivo e criativo nessa organização, que representa 97% da produção mundial de café, no valor de US$ 70 bilhões anuais, e 56% de todos os consumidores do planeta.

Muitos países produtores de café são nossos amigos e vizinhos. Para muitos deles, o cultivo do café é parte significativa e importante de suas economias. O café é o segundo maior empregador do setor agrícola do Brasil, com cerca de 300 mil produtores e estimativa de geração de até 8 milhões de empregos ao longo da cadeia de produção, consumo e exportação. Em países como Burundi, Papua-Nova Guiné e Timor Leste, o café cultivado por pequenos produtores é esteio da economia. No mundo inteiro, cerca de 25 milhões de famílias de agricultores ganham a vida com o cultivo do café.

Mas na América do Sul e na África os baixos preços do café obrigaram muitos produtores que antes lucravam com a cafeicultura a se voltarem para culturas alternativas, como coca e khat (Catha edulis) para poder alimentar suas famílias. Algumas pessoas que antes trabalhavam na terra na América Central abandonaram a agricultura como meio de vida e estão migrando para as cidades grandes do país ou para os EUA, na tentativa desesperada de achar emprego.

Por que os pequenos agricultores estão obtendo retorno tão minguado do café que produzem? Preços mundiais baixos e um aumento geral da produção cafeeira em todo o mundo explicam parte do problema. Alguns especialistas citam os avanços na tecnologia de torrar o café, que permitem que as torrefações dos EUA comprem mais grãos da espécie robusta e menos da espécie arábica e ainda assim adaptem o produto ao gosto dos norte-americanos. Mas um motivo de peso para a situação precária dos pequenos fazendeiros pode ser a falta de acesso ao mercado globalizado. Eles não possuem as ferramentas - como a internet ou capacitação em métodos comerciais e análise de mercado - que poderiam ampliar o acesso a seus mercados principais.

Ao anunciarmos nossa intenção de voltar a participar da Organização Internacional do Café, estamos sinalizando que reconhecemos a situação dos produtores e entendemos que muitos de nossos amigos mais próximos dependem de um mercado cafeeiro sustentável. Boa parte do crédito é da OIC, que empreendeu reformas orientadas para o livre mercado e abandonou a discussão de um sistema de cotas que pouco ajudou a criar um mercado sustentável para consumidores e produtores de café. Estamos trabalhando lado a lado com a indústria cafeeira dos EUA para garantir que o desenvolvimento sustentável seja o item principal da agenda do comércio do café.

kicker: Os EUA estão determinados a incentivar ações relativas à produção sustentável