Título: Governos anunciam venda conjunta de imagens de satélite
Autor: Virgínia Silveira
Fonte: Gazeta Mercantil, 16/11/2004, Nacional, p. A-5

O Brasil e a China vão começar a oferecer as imagens do satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS-2) para o mercado internacional. O acordo, que prevê a comercialização conjunta das imagens, foi assinado pelos dois governos na semana passada, em Brasília. Segundo o Ministro da Ciência e Tecnologia (MC&T), Eduardo Campos, o custo anual das imagens para os países interessados foi estipulado em US$ 250 mil, que corresponde ao valor da taxa por adesão.

Até o momento, de acordo com o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Luiz Carlos Miranda, já existem dez estações receptoras potenciais das imagens do CBERS no mundo, incluindo os Estados Unidos, Agência Espacial Européia, Alemanha, Venezuela, Austrália e África do Sul. Segundo estimativas do Inpe, o mercado de imagens de sensoriamento remoto deverá movimentar mais de US$ 13 bilhões entre os anos de 2000 a 2010.

Os satélites na categoria do CBERS, com resolução espacial de 3 metros a 30 metros, respondem hoje por 41% da demanda mundial. Com base no crescimento de 7% ao ano, a previsão é que o valor do mercado potencial do CBERS seja da ordem de US$ 497 milhões. "Isso significa que, se conseguirmos conquistar 20% do mercado potencial do CBERS, estaríamos nos igualando à Índia de 2003, que arrecadou US$ 80 milhões com a venda de imagens do seu satélite. Mais ainda, isso significaria o autofinanciamento do programa", explicou o diretor do Inpe, Luiz Carlos Miranda.

Acesso via internet, no Brasil

No Brasil o acesso às imagens do CBERS é gratuito e começou a ser oferecido via internet, em junho deste ano. Desde então, mais de 45 mil imagens já foram distribuídas, para um total de 6,4 mil usuários, de 2 mil instituições. Entre os principais usuários que acessam as imagens do CBERS estão as universidades públicas e privadas, órgãos do governo, prefeituras, jornais, empresas de geologia, petróleo, engenharia, aerolevantamento, saneamento, topografia, eletricidade, entre outras.

A Cooperação com os chineses na área espacial, de acordo com o ministro Eduardo Campos, é considerada uma das mais bem sucedidas parcerias internacionais desenvolvidas pelo Brasil. "É um assunto tratado com prioridade, pois temos o maior interesse de que essa parceria se torne uma alavanca para a cooperação em outras áreas, como a de biotecnologia", disse.

A visita do presidente da China, Hu Jintao, ontem, às instalações do Inpe, em São José dos Campos (SP), segundo Campos, foi uma demonstração de que a cooperação científica entre os dois países está cada vez mais fortalecida. "O presidente da China falou com o presidente Lula sobre o seu interesse em ampliar a parceria com o Brasil, especialmente na área de formação de recursos humanos, com o intercâmbio de estudantes brasileiros e chineses", comentou.

Composição do financiamento

Os dois países, segundo o ministro, já investiram US$ 300 milhões na construção de dois satélites de sensoriamento remoto, sendo 70% sob a responsabilidade dos chineses e o restante do Brasil. O terceiro satélite tem orçamento estimado em US$ 240 milhões, que serão financiados em partes iguais. Para garantir a continuidade do fornecimento das imagens do CBERS-2, cuja vida útil termina em dois anos, os dois países decidiram lançar um novo satélite, o CBERS-2B, em 2006. O CBERS-3 será lançado em 2008.

O programa espacial brasileiro terá um orçamento de US$ 85 milhões em 2005. Este número, segundo o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Sérgio Gaudenzi, praticamente dobrará o volume de recursos destinados pelo governo ao setor em 2004. "A intenção do Ministério da Ciência e Tecnologia é que em 2006 nós recuperemos o orçamento de US$ 100 milhões que historicamente eram destinados ao programa até 1998", afirmou Sérgio Gaudenzi.

A prioridade do programa para o próximo ano, segundo informações de Gaudenzi, é o projeto do VLS, que deverá atender a meta do presidente Lula de ter o quarto protótipo lançado em 2006. A transformação da base de Alcântara, no Maranhão, em um centro de lançamento espacial, e o desenvolvimento dos satélites CBERS, feitos em parceria com a China, também têm prioridade de recursos no orçamento do Programa Nacional de Atividades Espaciais.