Título: As operadoras endurecem negociações de reajustes
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 16/11/2004, Panorama Setorial, p. A-10

Nos últimos anos, as operadoras endureceram as negociações dos reajustes dos pagamentos feitos a médicos e prestadores de serviços, como hospitais, laboratórios e clínicas. Os hospitais reclamam por terem se transformado em "válvula de escape" para as operadoras, pois os reajustes de diárias e tarifas foram inferiores aos concedidos às empresas de seguros e planos de saúde pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

Segundo a Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), entre 2000 e 2003 seus associados tiveram junto às operadoras um reajuste acumulado para os serviços prestados de 31,5%, enquanto o aumento autorizado pela ANS foi de 34,9%.

A Anahp é formada, principalmente, por hospitais de grande porte. Muitos desses estabelecimentos são considerados de referência nos planos e seguros oferecidos pelas operadoras, de modo que têm um poder de barganha maior que o de hospitais de menor porte. Para estes últimos, os reajustes concedidos podem ter sido ainda menores.

Além da situação crítica dos hospitais, os problemas também têm se refletido na situação dos médicos. Se as diárias e outros serviços dos hospitais tiveram reajustes menores, os preços das consultas desses profissionais não são reajustados pelas operadoras há anos.

O achatamento dos valores pagos tornou delicada a relação entre as empresas de saúde suplementar e os profissionais, a tal ponto que médicos de 19 estados aderiram a um boicote a sete seguradoras de saúde em julho de 2004.

Em alguns lugares, o boicote foi estendido a outras operadoras. Em Guarulhos (SP), por exemplo, os médicos decidiram, em agosto de 2004, boicotar 35 planos de saúde.

O boicote dos médicos ocorreu num dos períodos mais delicados para o setor de saúde suplementar. A crise do setor, que vinha afetando hospitais e operadoras, além de provocar a fuga de usuários de planos de saúde, ficou ainda mais aguda, no final do primeiro semestre de 2004, quando as empresas de convênios médicos decidiram reajustar os preços dos contratos de planos e seguros anteriores à Lei 9.656.

Aproveitando uma decisão do Superior Tribunal Federal (STF) determinando que os contratos antigos ficariam fora do controle da ANS, os reajustes chegaram a 82%. Isso levou os usuários, a agência reguladora e o governo a entrarem na Justiça para questionar os reajustes.