Título: Tendência mundial de crescimento
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 16/11/2004, Panorama Setorial, p. A-10

Um dos fenômenos mais relevantes que vêm agravando a situação da saúde suplementar são os custos crescentes no setor. É uma tendência que se observa no Brasil e em todo o mundo.

A inflação da saúde tem sido bem maior que o aumento de preços em geral da economia. Um exemplo são os Estados Unidos, onde os preços da área da saúde, entre 2000 e 2003, tiveram um aumento de 68%, ante uma inflação geral de 12%.

O aumento do custo da saúde tem várias causas e uma das principais é o envelhecimento da população. À diminuição da taxa de natalidade e da participação dos mais jovens no total soma-se o aumento da expectativa de vida das pessoas. Com isso, uma parcela cada vez maior da população é composta de idosos, que usam mais os serviços de saúde.

Além da mudança na composição etária da população, contribuem para o encarecimento dos serviços de saúde as constantes inovações tecnológicas, os hábitos dos médicos e dos consumidores perante a utilização dos serviços e também a ausência de iniciativas para a prevenção de doenças e de outros problemas que costumam atingir os usuários de planos.

A introdução de novas tecnologias na área da saúde, na maioria das vezes, não contribui para a redução de custos. É que, de forma geral, as novas técnicas adotadas não eliminam as já existentes.

Quanto à falta de critérios e de preparo de quem incorpora as técnicas, o comportamento dos consumidores é um exemplo. Os usuários de convênios coletivos - que não têm mecanismos que asseguram a utilização com mais critérios, como as co-participações - acabam por ter a percepção de que não pagam pelos serviços.

Com isso, usam em excesso os seus planos de saúde, fazendo com que aumente a freqüência de exames e de consultas.

Os desperdícios e a ineficiência na utilização de tecnologias sem critérios por uma parcela dos profissionais da saúde também contribuem para a elevação dos gastos. Um dos principais motivos desse comportamento é a formação inadequada desses profissionais, muitas vezes decorrente do número excessivo de faculdades com qualidade questionável.

Controle

Em 2001, uma nota oficial de entidades médicas nacionais e regionais já defendia um controle mais rigoroso na abertura de novas escolas: "Alertamos que a abertura de escolas médicas sem as mínimas condições de formar bons profissionais representa sérios riscos à saúde e à vida da população. Alunos despreparados não conseguem entrar na Residência Médica, sujeitam-se a péssimas condições de salário e trabalho, e lançam mão de procedimentos e ações desnecessárias, elevando os custos da assistência".

O legislativo federal vem discutindo a suspensão de novos cursos de Medicina com o objetivo de combater os cursos de má qualidade e melhorar as condições de trabalho dos médicos.

Em maio deste ano, a Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei do deputado Arlindo Chinaglia, que pretende proibir a criação de novos cursos pelo período de dez anos e a ampliação de vagas dos já existentes.

Pelo substitutivo, a autorização, a avaliação e o reconhecimento dos cursos de medicina serão regulamentados por conselhos nacionais de educação e de saúde. O projeto de lei seguiu para a Comissão de Educação e Cultura e aguarda o parecer do relator.

Também contribuem para a elevação de custos a falta de uma gestão adequada dos prestadores de serviços e a ausência de programas significativos de prevenção de saúde. No Brasil, as operadoras têm programas voltados para a prevenção de doenças e a promoção da saúde, mas este movimento ainda é incipiente. O modelo de saúde, semelhante ao norte-americano, ainda está muito focado na cura, o que aumenta as despesas com assistência.