Título: A hora e a vez do Senado
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Fonte: Correio Braziliense, 08/04/2011, Opinião, p. 18

O Senado Federal é, historicamente, uma casa de referência política. Salvo exceções, de praxe em qualquer ambiente social brasileiro, possui em seus quadros homens e mulheres hábeis e experimentados ¿ o termo senador, aliás, é etimologicamente derivado de sênior. Mas, é importante ressaltar, não é um mero sinônimo de senhor, no sentido da idade: atribui-se a um dos decanos da política brasileira, Ulysses Guimarães, a expressão de que lá, na Câmara Alta do Poder Legislativo, há até velhos, mas não velhacos. Na quarta-feira, a Casa voltou a demonstrar que, das suas tribunas, saem recados e orientações de valor inestimável para a consolidação do processo democrático iniciado em 1985. Deu mostras de ser o que ninguém contesta: o Congresso é, mas precisa expor claramente esse pormenor, um lugar ativo da República, estabelecendo agenda propositiva e de alto nível.

O senador Aécio Neves manifestou-se pela primeira vez da tribuna da Casa, em discurso de 24 minutos. Marcou o claro posicionamento que deve ser tomado por um segmento que faz oposição não apenas ao Partido dos Trabalhadores e eventuais aliados ¿ temporariamente governo e, como deve ser numa democracia, não donos do Estado ou da verdade absoluta. Frise-se que, nos últimos 20 anos, o PT posicionou-se contra relevantes decisões político-administrativas globais, como o Plano Real, o programa de recuperação do sistema bancário, a lei que prevê punições para gestores irresponsáveis ou mesmo as privatizações de estatais deficitárias e ineficientes.

As ideias e proposições de Neves, que deverão ser postas imediatamente em discussão na sociedade, levam em conta um país em franco desenvolvimento econômico e social ¿ mas que é resultado de políticas públicas que vêm sendo implementadas desde o início da década de 1990, com os então presidentes Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. O neto de Tancredo Neves, de quem herdou habilidades especiais, principalmente na arte de unificar pensamentos pouco convergentes, orienta, assim, metade da população brasileira, aquela que não votou em Dilma, a enfrentar o debate político-ideológico e manifestar opiniões com clareza e coragem.

Resta, agora, que as forças oposicionistas saiam do marasmo e exerçam valores capitais a qualquer vetor social: responsabilidade entre discurso e prática; atitudes firmes (bravura e destemor são qualidades inerentes aos bons políticos, líderes sociais e empresariais); e, essencialmente, um comportamento baseado em princípios e regras sadias que estabeleçam uma moral exemplar. Será com esses atributos postos à mesa que se poderá cobrar do governo ações pertinentes, mas ignoradas, como a redução da opressão tributária sobre cidadãos e empresas ou a mudança de rumos na condução dos investimentos em áreas estratégicas como saúde, saneamento básico e energia elétrica. Sem falar, obviamente, das imprescindíveis reformas trabalhista e política.