Título: Manutenção da Varig atende os primeiros aviões Airbus
Autor: Roberto Manera
Fonte: Gazeta Mercantil, 16/11/2004, Transporte & Logística, p. A-18

Homologação da Europa e dos EUA abre um mercado de US$ 1,8 bilhão. A Varig Engenharia e Manutenção (VEM) completou a primeira revisão geral - chamada check D - numa aeronave Airbus desde que suas oficinas foram homologadas pela Federal Aviation Administration (FAA) para procedimentos de manutenção nas aeronaves da marca européia. O Airbus A300 da Express.Net, companhia cargueira norte-americana, foi o primeiro de três aviões da empresa que serão submetidos à revisão geral de quinto nível, normalmente efetuada quando o avião atinge a marca de 20 mil horas de vôo. O custo de um check D pode chegar aos US$ 2 milhões, dependendo do tamanho e da idade do avião checado. Os dos Airbus da Express.Net custarão em torno de US$ 800 mil por unidade - cerca de 20% abaixo do mercado internacional em virtude das diferenças do custo de mão-de-obra no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos (US$ 30/35, US$ 50 e US$ 40/45 homem/hora). A Express.Net tem uma frota de onze Airbus A300.

"O interessante é que esse tipo de procedimento agrega um custo substancial de mão-de-obra. Só 60% do total são referentes a peças e instrumentos, que normalmente são importados. Assim, 40% correspondem a divisas líquidas para o País na forma de serviços exportados", diz Evandro Braga de Oliveira, presidente da VEM. Segundo o executivo, a homologação da FAA vai aumentar substancialmente o mercado da companhia. "Já fomos procurados por companhias do Oriente Médio e de outras regiões, atraídas por nossa disponibilidade, pela qualidade de serviços e pelas diferenças de preços", garante Oliveira. O mercado de manutenção de grandes aeronaves na América Latina chega a US$ 1,8 bilhão por ano. No mundo, a cifra sobe para US$ 60 bilhões. Os procedimentos obrigatórios de manutenção de aviões comerciais são designados com nomenclaturas diferentes pelas fabricantes. A americana Boeing, por exemplo os alinha em cinco níveis que começam nos simples cheques de trânsito, efetuados depois de cada pouso e depois vão ficando mais rigorosos à medida que alcançam as 150 (check A), 1.000 (check B), 5.000 (check C) e 20.000 horas de vôo (check D). Neste último, o avião é completamente desmontado e os sistemas revisados um a um. A VEM tem o trunfo de possuir uma oficina própria para instrumentos e sistemas sem precisar mandá-los ao exterior.

A Airbus, que desenvolveu uma linha mais moderna de aeronaves, exige revisões às 6 mil, 12 mil e 18 mil horas de vôo, sendo esta última equivalente ao check D da Boeing. "As instalações, o ferramental e a mão-de-obra empregados na manutenção aeronáutica são caros e difíceis de formar, razão pela qual não há grande capacidade ociosa instalada no mundo. A estrutura mundial de manutenção está, assim, montada na medida certa para atender a frota prevista pela indústria. As situações de reaquecimento da atividade, como estamos vivendo agora, aumentam francamente a demanda por nossos serviços", diz Oliveira.

Ele também está confiante no "empurrão" que é esperado pelo mercado na entrada em vigor do novo sistema de separações do espaço aéreo, a partir do próximo dia 1 de janeiro. Com o novo sistema, a separação vertical entre as aeronaves que voam numa mesma aerovia cairá dos atuais 1000 pés para apenas 500 pés, exigindo uma precisão de instrumentos, como os radioaltímetros, que só os aviões mais novos possuem. "Já fizemos um up-grade destes em um Boeing 707 da Presidência da República", disse Oliveira. Ele espera que uma considerável frota de aviões mais antigos receba o mesmo tratamento que o Boeing presidencial numa das poucas oficinas capaz de fazer o serviço na América Latina, como a VEM.