Título: CVM decide destino dos fundos
Autor: Lucia Rebouças
Fonte: Gazeta Mercantil, 16/11/2004, Finanças & Mercados, p. B-1

O destino da Santos Asset Management, que administra R$ 3 bilhões em fundos de investimentos, depende da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Pela legislação em vigor, a intervenção feita pelo Banco Central no banco e na corretora não é extensivo à Asset. Até a CVM manifestar-se, eles podem ser sacados pelos cotistas, a não ser que a Comissão os torne indisponíveis. Mas o que se espera - de acordo com Erivelto Rodrigues, presidente da Austin Rating - é que a administração dos recursos seja transferida para outro gestor. De outra forma, a repercussão seria ruim para a imagem de toda a indústria de fundos.

A maior parte do patrimônio administrado pela Santos está em fundos de renda fixa. O fundo que detêm a maior fatia do patrimônio é o Santos Credit Yield, com R$ 580 milhões, aplicados em títulos de crédito que o banco originava, como cédulas de crédito bancário (CCB) e cédulas de crédito rural (CCR).

Na semana passada, a Asset recebeu uma observação negativa da Austin Rating, uma das empresas responsáveis pela classificação de risco das empresas do grupo. Segundo Rodrigues, a classificação foi dada exatamente porque grande parte das carteiras dos fundos era composta por créditos originados pelo próprio banco.

Em reunião realizada em agosto, o comitê de classificação de risco da Austin havia mantido o rating A para o Banco Santos. Mas com várias ressalvas. A Austin alertava que "a estratégia de incursão no varejo defendida pelo banco se mostrava questionável e de pouca contribuição no curto prazo, devido ao seu foco tradicional voltado para as empresas do segmento de o middle market". Outro alerta da Austin era quanto à compra da Vale Trading, uma empresa comercial. "Apesar do caixa que poderia produzir, na prática era considerada contraproducente, podendo impactar na imagem do banco, neutralizando os benefícios que positivos (direito de crédito de R$ 436 milhões em impostos a compensar) que traria para a instituição".

O investimento para atrair clientes de alta renda foi muito alto e não teve o retorno esperado. Junto com a compra da Vale Trading, isso comprometeu o programa de provisões (de R$ 250 milhões a R$ 300 milhões), escalonado em 18 meses, com o qual havia se comprometido. A conseqüência foi a intervenção do BC, de acordo com Austin, que rebaixou o rating do banco de A para CCC.

Conforme o presidente da Austin, o banco também foi prejudicado pelo boataria sobre sua situação financeira, que se acentuou nos últimos meses, provocando um movimento elevado de saques, de cerca de R$ 800 milhões. Rodrigues afirma, porém, que o banco ainda tem recursos para pagar os investidores. Tem uma carteira de crédito de R$ 3 bilhões, com um índice de inadimplência de menos de 5%.

Ligação com as artes

Embora tenha sido fundado em 1994, o origem do banco é bem mais antiga. Nasceu de uma corretora fundada na cidade de Santos, em 1969, por Edemar Cid Ferreira.

Ferreira ficou mais conhecido como um mecenas das artes. De 1993 a 1997 foi presidente das Fundação Bienal. Depois disso, para permanecer no mundo das artes fundou a Brazil Connects, que organizou várias exposições, algumas de grande porte como a da China e a do Brasil 500 anos. Este ano, Ferreira transferiu a presidência para Ricardo Gribel e passou a fazer parte do Conselho. Manteve o projeto de reestruturação: entrar no varejo e até de abrir o capital. kicker: Ida para o varejo e compra de empresa precipitaram intervenção, diz a Austin Rating