Título: Analistas apostam em Selic a 17,25%
Autor: Jiane Carvalho
Fonte: Gazeta Mercantil, 16/11/2004, Finanças, p. B-2

Dólar fecha no menor valor desde junho de 2002, início da campanha para a eleição presidencial. O Banco Central deve dar prosseguimento ao aperto na política monetária elevando novamente a Selic na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) entre hoje e amanhã. O mercado financeiro aposta em um novo aumento de 0,5 ponto percentual na taxa básica Selic, que subiria para 17,25% ao ano. O argumento mais freqüente no discursos dos executivos do setor, em defesa da alta, é de que as expectativas em relação à inflação de 2005 ainda estão da meta do BC.

Desde a reunião do Copom de outubro, segundo economistas ligados aos bancos, o cenário não se alterou no que se refere à expectativa para 2005. "A ata do Copom deixou claro que o aperto visava, acima de tudo, a reduzir as projeções para o ano que vem, meta ainda não alcançada", diz Cristiano Oliveira, economista do Banco Shahin. Quando o Copom decidiu pelo aumento da Selic em outubro, o boletim de mercado do BC trazia a projeção de um IPCA de 5,82% em 2005, acima da meta de 5,1%. No boletim da semana passada, a previsão do mercado havia piorado, e estava em 5,90%.

O economista-chefe do Bradesco, Octavio Barros, faz coro. "No geral, não houve mudanças significativas no cenário atual em relação a outubro, que justifique uma interrupção na alta da taxa", diz. Além de as expectativas de inflação para 2005 ainda estarem altas, Barros lembra outro fator importante que vem norteando as decisões do Copom: o ritmo acelerado da atividade econômica. "Apesar de as taxas de crescimento do setor industrial terem mostrado tendência de desaquecimento, ainda continua a crescer a taxas acima às do crescimento potencial da economia", justifica Barros.

O preço do petróleo, que ganhou especial destaque na ata da reunião de outubro, ainda preocupa apesar do recuo. Embora os preços do barril tipo WTI, negociados em Nova York, terem recuado 11% (cotação do dia 11/11) em relação a 19 de outubro, ainda se encontra em um patamar muito alto. "O cenário para o petróleo é muito incerto e os preços estão hoje em um nível elevado, o que justifica a cautela do BC", diz Newton Rosa, economista-chefe da SulAmerica Investimento. "Isto sem falar na economia ainda aquecida e nas expectativas altas para 2005."

Se os economistas ligados ao mercado financeiro estão afinados na defesa de um aumento de 0,5 pp agora, para dezembro há alguma divergência. Octavio Barros, do Bradesco, considera pouco provável que o BC aumente a Selic em 0,5 pp três vezes consecutivas. "A relação custo benefício de um aperto maior pode não ser interessante pois afetaria o crescimento do PIB", diz.

Já a economista-chefe do Banco UBS no Brasil, Victoria Werneck, acredita que, em dezembro, o Copom deve aumentar a Selic novamente em 0,5 pp, fechando o ano em 17,75% ao ano. Para 2005, no entanto, a executiva crê em uma interrupção da alta da Selic, que deve ser mantida no mesmo patamar no primeiro trimestre do ano.

Intervenção do BC?

Na sexta-feira, o dólar comercial fechou no menor patamar em dois anos e meio. A queda da moeda chegou a 1,03%, vendida ao final do dia em R$ 2,79. O fluxo comercial positivo foi o principal fator de apreciação do real frente ao dólar. O fato de a moeda ter rompido a barreira dos R$ 2,80 já reacendeu a expectativa de que o BC entre no mercado. "Acredito que se a moeda chegar a um piso de R$ 2,78 o BC deve comprar dólares para as reservas do País o que forçará uma alta na cotação", diz João Medeiros, analista da corretora Pionner.

Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), a queda do dólar favoreceu um recuo nos juros. A maioria das projeções de juro encerraram o dia em queda. O único contrato a sinalizar alta foi o de dezembro, que indica a percepção dos investidores para o juro de novembro. A taxa passou de 17,07% para 17,12% ao ano. Já o contrato de Depósitos Interfinanceiro (DI) de abril, o mais líquido, fechou com taxa de 17,80% ante 17,83% da véspera.