Título: Casa da Moeda estuda técnica que limita impacto ambiental
Autor: Guilherme Arruda
Fonte: Gazeta Mercantil, 16/11/2004, Gazeta do Brasil, p. B-14

Desenvolvida pela Universidade de Caxias do Sul, programa foi apresentado na feira de Bento Gonçalves (RS). Na busca por tecnologias alternativas para reduzir o impacto de resíduos sólidos ao meio ambiente e ao mesmo tempo contribuir para diminuir o custo de produção de cédulas (numerário), a Casa da Moeda do Brasil, situada em Santa Cruz, no Rio de Janeiro, pode ter encontrado na Feira Internacional de Ecologia Meio Ambiente - Fiema Brasil 2004, encerrada sábado, em Bento Gonçalves (RS), a solução que procurava: tratamento térmico à alta temperatura, pirolítico com oxidação controlada, que permite reduzir o volume de resíduos sólidos em até 90%. No caso específico da estatal é a borra de tinta (classificada como tóxica) usada no processo de impressão. Mensalmente, são geradas aproximadamente 90 toneladas deste resíduo. Desenvolvida pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), a tecnologia foi apresentada semana passada na feira de Bento Gonçalves.

"Realmente, ficamos interessados nesta tecnologia que utiliza a pirólise aplicada a borra de tinta, pois nosso resíduo é do tipo Classe 2. Hoje, nós entregamos este resíduo para uma empresa, a Sasa Aterros Industriais, de São Paulo. Eles primeiro inertizam e depois depositam o material em aterros especiais. Isto nos incomoda, porque, de certa forma, somos co-responsáveis. Por isso a busca por outras alternativas", disse o chefe da Divisão de Pesquisas da Diretoria de Tecnologias da Casa da Moeda, Roberto Barcia Ogando, em visita à feira. Atualmente, o custo aproximado por tonelada para depositar o resíduo é de R$ 400. "Com o uso da tecnologia de pirólise da UCS cai para R$ 350, mas é preciso lembrar que o processo da universidade não está em escala industrial. Quando ocorrer isso, com certeza o preço será muito menor", explica.

Pirólise

A professora do Departamento de Engenharia Química da UCS, Ana Rosa Muniz, comenta que há cinco anos a universidade vem trabalhando no desenvolvimento do uso da pirólise para borra de tinta e resíduo plástico, para atender pedido de empresas da região da Serra Gaúcha, principalmente do setor automotivo, que usam cabines de pintura, tais como Randon, Marcopolo, Agrale, entre outros, além dos setores moveleiro e de plástico. Segundo ela, foram identificadas 143 empresas, que geram mensalmente 40 toneladas de borra de tinta. O projeto da UCS faz parte das prioridades do Centro Gestor de Inovação Tecnológica - Autopeças, coordenado pela Câmara de Indústria e Comércio de Caxias do Sul.

"Estamos entrando na etapa piloto. A previsão é de que em janeiro do próximo ano funcione a primeira unidade. Ela terá capacidade para processar algo como 100 Kg/hora", diz Ana Muniz. Como a distância entre a UCS e a Casa da Moeda é grande, a professora informa que não há nenhum impedindo para repassar os conhecimentos sobre o uso da pirólise para borra de tinta. "Basta que a Casa da Moeda encontre uma universidade parceira que enviaremos as informações necessárias", disse.

De acordo com professora da UCS, o uso de tecnologia térmica não é novidade para reduzir o volume de resíduos sólidos. A novidade é a aplicação da pirólise para borra de tinta. A Petrobras usa a pirólise para destinação de resíduos de pneus em São Mateus do Sul (PR). "Eles cortam os pneus em diversos pedaços e depois colocam dentro de um reator, sem oxigênio. Desse processo gera um gás com características de GLP, que é aproveitável (vai direto para empresas da região por meio de um gasoduto), e também óleo combustível que alimenta caldeiras", explica Muniz.

Roberto Ogando, da Casa da Moeda, destaca que a borra de tinta é o resíduo que mais incomoda e o que gera mais despesas. "Nós já tentamos diversas opções, como o uso de cimento, de tijolo e até de plasma térmico, numa parceira entre a PUC do Rio e a USP, mas o custo deles ficou muito alto. O plasma térmico, por exemplo, é quase R$ 1 mil a tonelada", conta. Caso haja posicionamento favorável na adoção tecnologia desenvolvida pela UCS, Ogando informa que o contrato com a Sasa Aterros Industriais pode ser interrompido a qualquer momento, "desde que se justifique que é de interesse público", avisa.

Com relação à parte de produção de moeda, chefe da Divisão de Pesquisas da estatal (vinculada ao ministério da Fazenda), disse informou que os processos estão sob controle. "Claro que geramos resíduos de alguns metais, como cobre e estanho, mas não é problemático", disse Ogando, acrescentando que cinco colegas da Casa da Moeda participaram da feira para conhecer novidades na área de galvanoplastia. "Eles viram tecnologias com acabamento ecológico destinado à indústria galvânica", disse.