Título: Diploma sem emprego
Autor: Luiz Gonzaga Bertelli
Fonte: Gazeta Mercantil, 17/11/2004, Opinião, p. A3

No Brasil, faltam profissionais para o trabalho globalizado. Duas notícias, veiculadas na grande imprensa com diferença de três dias, bastam para aumentar a inquietação daqueles que se preocupam com os jovens. A primeira dá conta de que um em cada quatro brasileiros que se formaram em faculdades entre 1992 e 2002 não consegue emprego. A segunda revela que as universidades estão com 47,3% de suas vagas ociosas, de acordo com o Censo da Educação Superior de 2003.

É evidente a estreita ligação entre os dois fatos, pois nesse período a dificuldade de inserção no mercado de trabalho acompanha a expansão da rede de ensino superior, que responde pela ociosidade de 42,2% do total das vagas. Mas aí acaba a unanimidade. Analistas apressados logo voltaram o dedo acusador para a indiscriminada abertura de escolas de nível superior, muito acima do aumento das matrículas que bateu nos 11,7% na comparação entre 2002 e 2003, quando somaram 3,9 milhões. Outros, ainda mais simplistas, decretaram que a ociosidade se deve ao alto valor das mensalidades. Alguns preferiram responsabilizar o empobrecimento da população, decorrente da retração de duas décadas na economia. Outros argumentaram com a ausência de políticas públicas que garantam inclusão de jovens das camadas de menor renda.

Provavelmente, todos têm sua fatia de razão, só que a soma das partes não completa o todo, nesse caso. Falta uma visão mais abrangente e menos imediatista da empregabilidade do jovem. Há décadas, estudiosos sérios de todo o mundo vêm alertando para as mudanças no mercado de trabalho, insistindo que o diploma universitário deixaria de ser fator determinante na conquista do emprego. Aliás, alguns chegaram até a anunciar com estardalhaço o fim do emprego.

As previsões mais catastrofistas não se confirmaram e certamente não se confirmarão com a virulência prevista por alguns profetas do caos. Mas não há como negar que as coisas mudaram. E mudaram muito. No Brasil, o quadro foi agravado pela falta de políticas consistentes e eficazes para assegurar um ritmo de desenvolvimento que absorvesse o 1,5 milhão de jovens que todos os anos desembarcam no mercado de trabalho. Mas também é verdade que, como mostram as várias pesquisas, o País tem grande carência de profissionais qualificados para atender às exigências do mundo do trabalho globalizado.

É aí que ganha enorme importância a capacitação do jovem estudante. E o melhor instrumento para isso é, sem dúvida, o estágio bem administrado e supervisionado. Para atestar essa afirmação, basta lembrar um dado revelado por pesquisa realizada no início deste ano: 64% dos estagiários são efetivados no emprego logo após o término do primeiro ou segundo período de treinamento em empresas. Portanto, o caminho para assegurar um futuro melhor para as novas gerações passa por uma série de providências, mas, entre elas, não deve ser esquecida a capacitação do jovem para a nova ordem no mundo do trabalho.

kicker: Não deve ser esquecida a capacitação do jovem para a nova ordemno trabalho