Título: Vale poderá voltar a negociar canadense Noranda
Autor: Mônica Magnavita
Fonte: Gazeta Mercantil, 17/11/2004, Indústria & Serviços, p. A9

"Estamos abertos para estudar propostas" disse Roger Agnelli; empresa anuncia negócio bilionário com a coreana Posco. A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) poderá voltar a negociar com a Brascan a aquisição dos ativos de cobre e níquel da mineradora canadense Noranda. Ontem, o presidente da Vale, Roger Agnelli, disse que a empresa está aberta para estudar propostas. "Se a Brascan tiver interesse em nos procurar para oferecer alguma coisa, para conversar, não há problema nenhum. Estaremos abertos para estudar tudo. Mas só levaremos à frente um projeto que gere, que crie valor para os nossos acionistas", disse Agnelli.

No Canadá, a direção da Brascan informou que a chinesa Minmetals não terá mais exclusividade nas negociações para a aquisição da Noranda, já que o prazo para um acordo entre os dois grupos acabou e a Brascan não concordou em prorrogá-lo. As conversas prosseguem, mas, a partir de agora, a controladora da Noranda aceitará novas propostas.

Ontem, ao anunciar a vitória na concorrência para a exploração da reserva de Moatize, uma das maiores jazidas de carvão do mundo, em Moçambique, Agnelli criticou as diversas especulações envolvendo a companhia em operações de compra e venda na área de mineração. Muitos dos negócios onde a empresa surge como candidata à compra de ativos, segundo ele, não são verdadeiros.

A estratégia da Vale, conforme Agnelli, é analisar todas as oportunidades de negócios tanto no Brasil como no mundo, como forma de agregar valor à companhia. "Mas o volume de projetos que a gente tem descartado é bem maior do que temos fechado", disse o presidente da mineradora. A prioridade da Vale é investir em novos projetos, chamados de greenfield, em lugar de compra de ativos.

Bauxita e potássio

Ontem, além dos investimentos em carvão, em Moçambique, Agneli anunciou duas outras iniciativas bem sucedidas da Vale em novos projetos. A mineradora venceu a licitação para exploração direitos minerários de bauxita na região de Pitinga, no Amazonas, da Paranapanema, e vai começar a exploração de potássio na Argentina. A Vale vai investir US$ 15 milhões na província de Neuquém - área rica em potássio, insumo básico da indústria de fertilizantes - em pesquisa. O potencial de produção é de 1 milhão de toneladas por ano desse insumo.

Os investimentos iniciais em bauxita serão de US$ 20 milhões para estudos e avaliação da área. A médio prazo, a meta é criar na região um projeto integrado de bauxita e alumina, com potencial futuro para verticalização para alumínio primário. De acordo com Agnelli, Amazonas possui importantes reservas de petróleo e gás natural já em exploração, além de potencial hidrelétrico a ser desenvolvido, capazes de tornar viável economicamente uma indústria de alumínio mundialmente competitiva.

Na área de carvão, os planos também são ambiciosos. Até 2015, a Vale pretende estar entre as cinco maiores produtoras de carvão do mundo, com uma produção anual entre 40 e 50 toneladas. "É uma meta ousada, mas como temos evoluído em pesquisa e como temos gasto bastante recursos em carvão, nos é permitido sonhar. Através de sonho, chegamos à realidade. Estamos buscando, em todos lugares, ativos de qualidade mundial", disse Agnelli, citando as reservas exploradas pela Vale do Rio Doce na Mongólia, Venezuela, China e Moçambique.

Outra frente de atuação a partir dos investimentos na África será a logística. O Brasil não produz carvão metalúrgico de boa qualidade, insumo básico para a indústria siderúrgica, e depende exclusivamente da importação para produzir aço. "Temos um mercado natural no Brasil, que é trazer o carvão de alta qualidade de áreas onde levamos minério de ferro e aproveitar o frete de retorno. Isso garante o atendimento de clientes aqui no Brasil e, ao mesmo tempo, alavanca a competitividade da Vale do Rio Doce na Ásia ou em países mais ao leste", afirmou o executivo.

Ou seja, a Vale quer criar um processo de otimização do frete, no qual o navio que leva minério pode trazer carvão. Ou o que transporta alumina ou concentrado de cobre pode trazer antracito, ou algum qualquer outro produto.

Além disso, os investimentos na produção de carvão poderão render à Vale projetos de alumínio. Um dos subprodutos do carvão - sua cinza - serve como combustível para geração de energia na região a um custo baixo. Segundo Agnelli, esse processo abre possibilidades para a construção de uma usina de de alumínio ou de ferro-ligas, setores eletro-intensivos.

Contratos com a Posco

Na área de minério de ferro, Agnelli informou que a Vale assinará contratos de longo prazo com dois grupos sul-coreanos: a siderúrgica Posco e e a usina de cobre LG Nikko Copper. Com a Posco, o acordo será um dos maiores já firmados pela companhia, no montante de U$ 2 bilhões para a venda de 103 milhões de toneladas por um período de 10 anos, assinado durante a visita da comitiva presidencial sul-coreana ao País.

Com a LG Nikko, a mineradora firmou um memorando de entendimentos para aumentar a exportação de cobre. À tarde, Roger Agnelli esteve em Brasília, participando dos encontros com a comi-tiva sul-coreana.