Título: Exportadores comemoram retomada
Autor: Neila Baldi
Fonte: Gazeta Mercantil, 17/11/2004, Agribussines, p. B12
Os catarinenses comemoram o fim do embargo russo às suas carnes. O estado é o único reconhecido internacionalmente pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) como livre de febre aftosa sem vacinação e também o que mais exporta suínos.
O analista da área do Instituto de Planejamento e Economia Agrícola (Icepa), Jurandi Soares Machado, diz que o estado responde por cerca da metade das exportações brasileiras e que a Rússia é o principal mercado. Absorve 60% das vendas externas.
O governo catarinense calcula que a perda para o estado nesses dois meses foi de US$ 1,4 milhão/dia. O presidente da Cooperativa Central Oeste Catarinense - Coopercentral Aurora, José Zeferino Pedrozo, comenta que a decisão do governo russo "reconhece o esforço que toda a cadeia produtiva fez nos últimos anos para manter o status de área livre de febre aftosa sem vacinação".
Produção
Machado, do Icepa, afirma que os prejuízos não foram tão grandes porque os abates de suínos em Santa Catarina estão em queda há 22 meses. Somente nos últimos 12 meses a redução superou 5,9%, com a produção passando de 8,14 milhões para 7,66 milhões de cabeças. "Houve, no período, uma redução expressiva na oferta de carne suína resfriada e congelada, pois 483 mil cabeças a menos resultaram em um encolhimento de 40 mil toneladas de carne suína no mercado", ressalta. Em 2003, a produção estadual reduziu em 746 mil cabeças, volume aproximado de um mês inteiro de abate. Até setembro de 2004, a queda foi de 227 mil cabeças.
Segundo Machado, as dificuldades de mercado interno, a queda nos preços internacionais e a pressão sobre os custos em 2002 e grande parte do ano passado foram os fatores que mais forçaram o encolhimento da produção estadual em 2004
As receitas cambiais, no entanto, batem recordes históricos. Entre janeiro e outubro as exportações brasileiras aumentaram 35,5% em dólares e atingiram os US$ 611,8 milhões. No mercado interno, o preço do suíno vivo pago aos criadores catarinenses atingiu um dos melhores patamares de remuneração dos últimos anos.
O embargo russo interrompeu uma sucessão de aumentos realizados ao longo do ano em Santa Catarina. Duas semanas após a suspensão das exportações, a cotação caiu de R$ 2,30 para R$ 2,25. Pouco depois, sofreu nova diminuição de R$ 0,05. Pela última cotação, o preço do quilo vivo do suíno aumentou para R$ 2,25. É provável que a cotação paga dentro do sistema de integração, responsável por cerca de 90% do abate em Santa Catarina, volte a R$ 2,30 ainda em novembro. Segundo o presidente da Associação Catarinense de Suínos (ACCS), Wolmir de Souza, o reajuste mostrou que a redução de R$ 0,10 na cotação, em função do embargo russo, foi precipitada.
O aumento para o produtor não deve chegar de imediato aos consumidores, que foram beneficiados nos últimos 30 dias por reduções médias de 5% nos cortes in natura e produtos industrializados de carne suína vendidos nos supermercados. Somente os cortes mais procurados para as festas de final de ano, como o lombinho e o pernil, podem recuperar parte do preço que perderam devido à sobra de carne no mercado interno propiciada pelo embargo russo num primeiro momento.