Título: Rússia suspende embargo para SC
Autor: Neila Baldi
Fonte: Gazeta Mercantil, 17/11/2004, Agribussines, p. B12

Expectativa dos exportadores é que Putin encerre sanção para todo o País no domingo. Caiu parcialmente o embargo russo às carnes brasileiras. Ontem, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento anunciou a retomada das exportações dos produtos de Santa Catarina para a Rússia. A sanção havia sido imposta há exatamente dois meses, após a confirmação de foco de aftosa em Carreiro da Várzea (AM). A previsão é que, no domingo, o presidente russo, Vladimir Putin, anuncie o fim total restrição.

Com a liberação catarinense, fica praticamente encerrada a sanção, uma vez que o estado responde por 31,9% das exportações brasileiras de frangos e 37% de suínos e, no próximo domingo, Putin estará no Brasil. Para garantir o fim do embargo, uma equipe com veterinários do governo russo chegou ontem ao País, preparando embasamento técnico e mudanças nas normas sanitárias entre os dois países.

Representante do setor estimavam prejuízo diário de US$ 4 milhões, pois dos suínos exportados pelo Brasil, 60% são encaminhados à Rússia. Além disso, o país responde ainda por 13% das remessas de carnes bovina e 8% de frangos.

Perdas

Os primeiros sinais de que o embargo está afetando as vendas externas apareceram mês passado, quando as remessas de carne de porco caíram 10,5%, segundo a Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs). A perda só não foi maior porque, durante um mês, a Rússia permitiu que os produtos que estivessem embarcados pudessem atracar em seu porto.

"Acho que todas as questões serão resolvidas em breve", disse Ara Abramian, presidente russo do Conselho Empresarial Brasil-Rússia. Segundo o presidente brasileiro do conselho, Marcus Vinicius Pratini de Moraes, a retirada parcial do embargo ocorre porque Santa Catarina é área livre de febre aftosa sem vacinação, reconhecida pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE).

"As normas sanitárias russas dizem que todo o país fica proibido. Mas é necessário um ajuste à OIE", afirma Pratini de Moraes. Segundo Abramian, está sendo elaborado um acordo para melhor determinar os mecanismos de controle sanitário. "A Rússia tem prioridade na carne brasileira, pois 25% das compras de frangos vem daqui", afirmou Abramian.

Desde o início do embargo, as autoridades brasileiras acreditavam que a sanção não duraria muito tempo, pois não havia "embasamento técnico", uma vez que a região afetada com a doença não consta do circuito de exportação. Além disso, havia um precedente, pois em junho deste ano, em virtude de um foco de aftosa no Pará, a Rússia suspendeu as compras brasileiras por apenas 15 dias.

"Houve uma estratégia política para isso", avalia Paulo Molinari, consultor da Safras & Mercado. Segundo ele, no primeiro embargo a Rússia tinha necessidade da carne brasileira, mas agora os Estados Unidos voltaram a comercializar carne bovina para aquele país. Opinião semelhante tem o presidente do Conselho Nacional de Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Antenor Nogueira. Para ele, não se trata apenas de uma questão sanitária, mas de negociações que envolvem a entrada da Rússia na Organização Mundial do Comércio (OMC) e a venda de aviões para o governo brasileiro. Na sanção anterior, cogitava-se ainda a liberação do trigo russo ao mercado brasileiro como moeda de troca.

"O embargo nunca foi técnico e a liberação parcial pode representar a retomada das vendas", avalia José Vicente Ferraz, analista da FNP Consultoria. "Não havia consistência técnica", diz Pedro Camargo Neto, diretor-presidente da Abipecs. Ele acredita que, a partir do ano que vem, o Brasil poderá exportar sem problemas, pois haverá um novo acordo sanitário entre os dois países. Para Camargo Neto, liberar Santa Catarina é "melhor do que nada", mas não vai interferir muito no fechamento do ano, pois não há tempo para embarques. Opinião semelhante tem Cláudio Martins, diretor-executivo da Associação Brasileira dos Exportadores de Frangos (Abef). "Eles vão ver in loco o que o governo falou e o que encaminhou nos questionários e, após, devem liberar", afirma.

Missão

Os técnicos do ministério da Agricultura da Rússia chegaram ontem ao Brasil. Hoje, a equipe irá conhecer uma fábrica de vacina de aftosa em Vinhedos (SP). Na quinta-feira será a vez de visitarem frigoríficos e propriedades rurais em Maringá (PR). Se houver condições, poderão ir ao Amazonas na sexta-feira. No sábado, o grupo se reúne com o vice-ministro da Agricultura, Dank Vert, e o secretário-executivo do ministério, Maçao Tadano.