Título: PTB tenta seduzir Henrique Meirelles
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/08/2004, Política, p. A-10

O PTB está de olho no presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Os petebistas organizaram ontem uma reunião da Executiva Nacional para tentar seduzi-lo. Como num jantar à luz de velas, envolveram o presidente do BC de elogios, deixaram que ele expusesse, em gráficos e transparências, o sucesso da política econômica do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Os petebistas abriram os braços e o coração para quando Meirelles quiser concorrer a algum cargo eletivo ¿ principalmente o governo de Goiás, em 2006. Deputado eleito pelo PSDB em sua primeira disputa, o presidente do BC deixou sua cadeira na Câmara e no ninho tucano, depois de ser seduzido pelo canto da sereia petista, com a benção do mercado, que conhece muito bem, quando Lula chegou ao Planalto. Afinal, ele saiu da presidência do BankBoston e entrou na política.

"É para nós uma honra receber o ministro Henrique Meirelles em nossa sede partidária. Um homem que renunciou ao mandato para servir ao País. Saiba que os caminhos do PTB estão abertos para Vossa Excelência", disse o presidente nacional do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ).

Jefferson prosseguiu o assédio, alegando que o PTB não busca cargos, mas quadros, seguindo a filosofia de seu fundador Getúlio Vargas ¿ apontando para um pequeno busto do estadista pendurado na parede. Ao seu lado, Meirelles ainda tentou esboçar um certo ar de constrangimento, mesclado com a satisfação de se sentir assediado politicamente. "Fico totalmente honrado por ser lembrado pelo PTB. Mas, neste momento, o meu compromisso, o meu foco, é com o Banco Central. O nosso trabalho está na direção de fazer algo que faça diferença para o povo brasileiro", retribuiu Meirelles, num discurso ousado para quem garante não ter ambições políticas momentâneas.

A cada petebista que pedia a palavra, novos elogios. O líder do partido na Câmara, José Múcio Monteiro (PE), lembrou que a avaliação positiva de Meirelles independe de pesquisas qualitativas. Ela é diária, feita pelos mercados nacionais e internacionais. "Apesar de não querer aceitar, sabemos que, no íntimo, o senhor já é um petebista", provocou o deputado Múcio.

Jefferson chegou a citar um encontro que teve com Meirelles em 2002, na companhia do então presidente do PTB, José Carlos Martinez, morto em outubro do ano passado. Na época, tentaram convencê-lo a filiar-se ao PTB para disputar as eleições para deputado. Meirelles acabou se elegendo pelo PSDB. Apesar de não ser um petebista de fato, ele foi defendido com veemência por Jefferson, que classificou de irresponsáveis as denúncias feitas contra o presidente do BC.

"Eu não gosto de CPIs, acho que elas transformam os parlamentares em "delegadões". Deixa isso para os promotores, o Ministério Público, esses semi-deuses, investigarem", ironizou Jefferson.

Novas denúncias

No mesmo dia em que foi assediado pelo PTB, Meirelles se viu às voltas com novas denúncias contra si. O Ministério Público do Trabalho (MPT), segundo notícia veiculada na edição eletrônica da revista Época, suspeita que a indenização paga pelo BankBoston a doze policiais militares de Goiás ¿ em um dos casos, os valores chegam a R$ 140 mil ¿ seja uma forma de ocultar contribuições irregulares para a campanha do ex-presidente do Banco a deputado federal.

A suspeita do MPT é de que os policiais tenham trabalhado na campanha eleitoral como seguranças de Meirelles. O presidente do BC garantiu à revista que o banco tinha como estratégia mundial não se envolver em assuntos políticos e, desta forma, não fez nenhuma doação à sua campanha para deputado federal.

Ainda segundo Meirelles, por ser presidente mundial do BankBoston, tinha direito a escritórios, assessorias e seguranças no Brasil, mesmo após deixar a presidência do Banco, em agosto de 2002. Alega que, como os seguranças o acompanhavam em todo e qualquer evento, acabaram participando de atividades de campanha.

As dúvidas do MPT baseiam-se no fato de que, por serem policiais militares, os envolvidos não poderiam prestar serviço de segurança privada. Além disso, em casos de participação em campanhas eleitorais, não há vínculo empregatício. Logo, os doze PMs não poderiam pedir indenizações à Justiça. Mesmo assim, o BankBoston fechou os acordos para o pagamento das indenizações na primeira audiência de conciliação.