Título: Adversários anestesiados
Autor: Pariz, Tiago ; Iunes, Ivan
Fonte: Correio Braziliense, 10/04/2011, Política, p. 2

A trégua da oposição nos primeiros 100 dias de governo Dilma Rousseff foi rompida inicialmente pelo discurso do senador Aécio Neves (PSDB-MG), na quarta-feira. Dividida em seus processos de sucessão interna e com a fuga de parlamentares do DEM rumo à bancada governista, os partidos não alinhados ao Planalto patinaram. O realinhamento de forças, necessário depois da derrota nas eleições do ano passado, voltou o foco de PSDB, DEM e PPS mais para questões internas do que para as primeiras ações de Dilma. ¿A presidente tem falado com moderação, o que obriga a oposição a ser moderada, para não ser acusada de precipitada¿, afirma o presidente do PSDB, o deputado federal Sérgio Guerra (PE).

Analistas avaliam que a excessiva perda de parlamentares no Congresso levou ao esfacelamento da oposição que, no fim da Era Lula (2003-2010), já não apresentava forças para combater o governo. A antecipação do embate entre nomes fortes oposicionistas para 2014 também prejudicou o trabalho dos três partidos. ¿Para sair do buraco, a oposição precisa parar de cavar o buraco. A oposição não superou suas disputas. Há uma parcela que tenta resistir a ponto de não permitir que algo novo surja¿, critica o cientista político Carlos Mello, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper).

Nas votações na Câmara e no Senado, a oposição também chegou dividida aos principais embates impostos pelo Planalto. No reajuste do salário mínimo, DEM e PSDB sustentaram posições diferentes ¿ ambas sem embasamento técnico suficiente. O cenário se repetiu nas duas Casas. Na aprovação da MP do trem-bala na Câmara, semana passada, PSDB e DEM até conseguiram reforçar o coro contrário ao projeto, mas foram abandonados em plenário pelo PPS, que preferiu apoiar o aporte de R$ 25 bilhões do governo. ¿A oposição está no papel dela, de apontar erros do governo e criticar a presidente. Falando do problema econômico atual e do desequilíbrio fiscal que ela não consegue combater¿, avalia o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP). (TP e II)