Título: Extensas fichas criminais
Autor: Prates, Maria Clara
Fonte: Correio Braziliense, 10/04/2011, Política, p. 6

A ficha criminal do vereador Valdinar dos Santos Carvalho, o Mosquito, começou a ser preenchida logo após a posse na Câmara Municipal de Santa Quitéria, no Maranhão. Em 2009, ano de estreia no Legislativo municipal, ele foi preso por assalto a banco e, a partir daí, não parou mais. Conseguiu a liberdade, reassumiu o cargo e, já em 2010, foi novamente preso. Desta vez, a acusação era roubo de carro e formação de quadrilha, considerado crime hediondo. Ele acabou interceptado no município de Dom Eliseu, com um carro roubado, mas novamente voltou às ruas. Como se não bastasse, em 17 de fevereiro, foi parar novamente atrás das grades, por mais um assalto a banco. Quinze dias antes da prisão, ele assaltou a agência bancária do Bradesco de Santa Quitéria.

Para o cientista político Rubens Figueiredo, a incrível performance do político maranhense não pode ser atribuída à incapacidade do brasileiro em escolher seus representantes. Segundo ele, parlamentares envolvidos com crimes revelam, na verdade, a total falta de preocupação dos partidos com sua imagem. ¿Existe uma falta de controle, principalmente partidário, para impedir que candidatos com ficha criminal concorram a uma vaga nas eleições proporcionais. Os partidos não cuidam de sua imagem. Preferem candidatos com folha corrida e muitos votos, do que aqueles limpos e sem votos¿, analisa. A atual situação do vereador Carvalho é impossível de ser decifrada. A Câmara Municipal da cidade tem apenas uma secretária e um secretário, que não foi encontrado durante a semana. Nenhum vereador compareceu à Casa na sexta-feira.

Figueiredo diz que vereadores presos que reassumem suas funções no Legislativo depois de soltos só confirmam a falta de punição. ¿Os políticos são punidos na esfera penal e na política, não. Isso também pode explicar a baixa credibilidade dos políticos, alguns deles com capivara (ficha criminal) e não com currículo¿, conclui. Por sua vez, o também cientista político Gaudêncio Torquato, defende a tese que o brasileiro ainda está ¿ascendendo à escada da aprendizagem cívica e, a cada eleição, sobe um degrau para apurar sua escolha¿. Ele diz que apesar dos desvios de alguns políticos, a cada ano, o número de envolvidos com crimes é menor. ¿Acredito que, em eleições anteriores, os parlamentares suspeitos de crimes deveriam ser quatro ou cinco vezes maior¿, diz.

Na verdade, mesmo nos grotões do país, a notícia do envolvimento de um vereador com o crime choca as populações. No município de Curralinho, na Ilha de Marajó (PA), a prisão do vereador Janil Macedo Martins (PDT) causou indignação. Em agosto, ele foi acusado de torturar sua sobrinha, uma adolescente de 12 anos. Ela ficava em cárcere privado e sofria maus-tratos. Em Ibirapuitã (RS), a prisão do vereador Ibanez da Silva Portella causou revolta. Ele foi detido em agosto, quando deixava o motel Soledade, em companhia de uma adolescente de 16 anos. Foi indiciado por crime de exploração sexual de menor. (MCP)