Título: Quando os vereadores vão para o xilindró
Autor: Prates, Maria Clara
Fonte: Correio Braziliense, 10/04/2011, Política, p. 6

Estupro, assassinato, extorsão, assalto, tráfico de drogas, corrupção, lavagem de dinheiro, peculato, pedofilia, formação de quadrilha, exploração de jogo, embriaguez ao volante e degradação ambiental. Esses são alguns dos mais graves crimes previstos pelo Código Penal Brasileiro e leis especiais que foram infrigidos por pelo menos 35 vereadores do país, todos presos em flagrante, em pouco mais de dois anos de legislatura. A realidade é ainda mais assustadora se considerado que o levantamento, que inclui apenas casos que se tornaram públicos, não considerou os políticos que estão sob investigação, mas não estiveram atrás das grades. Causa espanto ainda a total ausência de punição aos parlamentares, que em sua grande maioria permanecem no cargo mesmo depois da prisão.

Os maus exemplos pipocam de norte a sul do país. Em Duque de Caxias, na Grande Rio de Janeiro, dois vereadores suspeitos de comandar milícias, responsáveis por cerca de 50 homicídios, venda de segurança, gás e TV a cabo ilegais, estão apenas afastados de suas funções na Câmara Municipal, apesar de não receberem os salários. Jonas Gonçalves da Silva, o Jonas é Nóis, e Sebastião Ferreira da Silva, o Chiquinho, foram presos em 21 de dezembro, durante a Operação Capa Preta, ao lado de outras 30 pessoas, acusadas de participação em grupo paramilitar. Passados quase quatro meses, o consultor jurídico da Câmara de Duque de Caxias, Josemar Mussuauer, explica que ainda não existe pedido de cassação do mandato dos vereadores, detidos no presídio federal de segurança máxima de Mato Grosso do Sul. ¿Estamos esperando a conclusão do processo criminal, conforme previsto na nossa lei orgânica¿, diz o consultor jurídico.

Cueca Saindo do Sudeste, a região mais rica do país, e caminhando em direção ao interior da Paraíba, uma das mais pobre do país, a face da impunidade pouco se altera. O vereador Gilmar Nogueira, de Desterro, foi preso por protagonizar a reprise de uma das cenas mais desmoralizadoras do escândalo do mensalão ¿ o transporte de dinheiro na cueca. Ele foi pilhado pela Polícia Federal em 30 de outubro, com pouco mais de R$ 4 mil, além de uma lista com nomes de 212 eleitores. Nogueira trabalhava como cabo eleitoral da campanha ao governo do então candidato à reeleição José Maranhão (PMDB). A prisão do político repercutiu em todo o país, mas ele reassumiu a sua cadeira no Legislativo de Desterro. Segundo a Polícia Federal, os votos dos eleitores seriam comprados por R$ 20, à época. Já em Dourados (MS), o vereador Humberto Teixeira Júnior foi preso durante a Operação Uragano da Polícia Federal por desvio de recursos públicos e pagamento de propina. Ele responderá por peculato e corrupção passiva.