Título: Aços Villares prepara nova investida
Autor: Gustavo Viana
Fonte: Gazeta Mercantil, 18/11/2004, Indústria & Serviços, p. A10

Após concluir aporte de R$ 450 milhões, empresa já planeja segunda fase de investimento. Após passar por uma grave crise nos anos 1990, que, nas palavras do presidente da companhia, José Maria Montero, "poderia ter acabado com a empresa", a Aços Villares, maior produtora brasileira de aços especiais não planos (para construção mecânica) e cilindros de laminação, já planeja para 2006 um segundo ciclo de investimentos após sua aquisição pelo grupo espanhol Sidenor, no ano 2000.

"O ano de 2005 será de estudos para analisar se vamos implementar esse plano de investimento. Se o País crescer como esperamos, vamos implantá-lo", disse Montero. Segundo o executivo, o projeto contempla a ampliação da capacidade de produção da empresa, e os aportes deverão se concentrar nas unidades de Pindamonhangaba e Mogi das Cruzes, ambas em São Paulo. "Temos infra-estrutura de sobra para expandir a produção nas próprias unidades já existentes", afirmou Montero, que afirmou que os números (investimento e produção) ainda estão em estudo. A duração desse plano seria de três a quatro anos e a decisão sairá durante o ano de 2005.

O primeiro plano de investimento, iniciado em 2000 e que será concluído no final deste ano, vai consumir cerca de R$ 450 milhões e consiste em três tópicos: aumento da capacidade de produção; atualização tecnológica e técnica; e responsabilidade social e meio ambiente. A capacidade instalada cresceu 40% desde 2001 e atingirá 700 mil toneladas por ano em 2005.

Em 2004, disse Montero, foi feita a fase mais importante desse ciclo, com a compra de um novo bloco laminador de aços especiais, na fábrica de Pindamonhangaba, com aporte de US$ 18 milhões e que, quando operar a plena carga, aumentará em 25% a produção da unidade, além de possibilitar a produção de bobinas com barras com um diâmetro menor. O equipamento - instalado em junho deste ano e comprado da italiana Danieli - estará operando a plena carga em janeiro ou fevereiro de 2005.

Atualmente, ainda no período de aprendizagem, o laminador trabalha em cerca de 80% de sua capacidade. Além do bloco laminador, também foram instalados equipamentos de controle de resfriamento, tratamento térmico e embalagem de bobinas. Para terminar este primeiro ciclo, a empresa deverá adquirir um novo bloco calibrador para a produção de barras de aço com maior precisão dimensional, mas que só deverá ser instalado no final de 2005, entrando em operação em 2006.

Segundo Montero, a Aços Villares conseguirá atender a demanda por seus produtos em 2005. "Será o primeiro ano que a empresa trabalhará com os novos equipamentos a plena carga de sua capacidade de produção", disse. Segundo o executivo, a empresa tem sacrificado parte das suas exportações de aços para a construção mecânica para atender ao mercado interno. "É uma questão de responsabilidade", disse Montero. Em 2001, embarcava entre 25% e 30% da produção, e neste ano a empresa deverá exportar 15%.

O executivo aposta na continuidade da forte demanda da indústria automotiva em 2005. Cerca de 85% dos aços para construção mecânica fabricados pela Aços Villares são vendidos para a indústria de automotiva e de autopeças. Os produtos acabados são usados para a fabricação de suspensões, motores, transmissões, caminhões, ônibus e tratores. A Aços Villares alcançou um lucro líquido de R$ 65 milhões no terceiro trimestre deste ano, o triplo dos R$ 21 milhões do mesmo período de 2003. No acumulado do ano, o lucro atingiu R$ 141 milhões, montante 44% maior que no mesmo intervalo do ano passado. A receita líquida foi de R$ 455 milhões no trimestre, um crescimento de 7% em relação ao mesmo trimestre de 2003, mesmo considerando-se que o resultado de 2003 inclui R$ 148 milhões da Villares Metals, cujo controle acionário foi transferido à siderúrgica austríaca Böhler-Uddeholm em março deste ano, por R$ 217 milhões. A empresa não distribuía dividendos aos seus acionistas desde 1996, e o com o retorno ao lucro nos últimos dois exercícios, aprovou o pagamento de dividendos e juros sobre o capital próprio, no valor total de R$ 45 milhões.

Renegociação de dívidas

"Mas o caminho para chegar até aqui não foi fácil. A Sidenor foi muito criticada quando assumiu a Aços Villares. E logo quando assumiu, enfrentou o apagão, a crise na Argentina, o `risco Lula¿, a falta de financiamentos", disse Montero. Segundo o executivo, a virada da Aços Villares aconteceu por uma série de motivos. "A dívida foi renegociada de uma maneira que fosse possível pagá-la; entrou dinheiro na companhia para começar o plano de investimentos; a geração de caixa da empresa foi crescendo, o que permitiu terminar o plano de investimento; e o mercado ajudou, nos últimos dois anos", disse Montero.

O grupo espanhol Sidenor é o terceiro podutor mundial de aços não-planos. Em 2003 a produção da Aços Villares atingiu 621 mil toneladas, contando com a produção da Villares Metals. Este ano, somente com as operações da Aços Villares, deverá alcançar um volume próximo ao do ano passado, já que a capacidade atual da empresa atinge cerca de 620 mil toneladas, e as três unidades atuam praticamente a plena carga.

A Aços Villares realizou na unidade industrial de Pindamonhangaba, ontem, um encontro com mais de 50 clientes da unidade de negócios construção mecânica da empresa, entre eles a Dana, Delphi, Eaton, NSK do Brasil, SKF do Brasil e Krupp Metalúrgica. Com usinas instaladas nas cidades de Mogi das Cruzes, Pindamonhangaba e Sorocaba, a Aços Villares conta com 3,3 mil funcionários. A espanhola Sidenor, com sede em Bilbao, assumiu o controle acionário da Aços Villares em agosto de 2000 e detém 58% do capital total da empresa. O grupo divide a liderança no ranking mundial, no setor de aços especiais, com a japonesa Daido e a inglesa UES Steels.