Título: Receita da Embraer é 80% maior que a de 2003
Autor: Virgínia Silveira
Fonte: Gazeta Mercantil, 18/11/2004, Transporte & Logística, p. A14

Apesar da crise mundial que reduziu o número de aeronaves entregues, o faturamento aumentou, com aviões mais caros. A crise financeira que afeta as principais companhias aéreas dos Estados Unidos obrigou a Embraer a refazer suas previsões de entrega de aeronaves em 2004. Mesmo assim a empresa continua superando os números de 2003. No período de janeiro a outubro deste ano as exportações da Embraer somaram US$ 2,7 bilhões, volume 80% superior se comparado ao mesmo período de 2003.

As entregas de aeronaves, este ano, apesar da redução de 15 jatos, provocada pela situação de concordata da US Airways, ainda serão 43% maiores que no ano passado. Em outubro, no entanto, as exportações da Embraer atingiram US$ 242 milhões, 21% menor que em setembro, quando a empresa exportou US$ 309 milhões. A receita líquida da empresa no acumulado de janeiro a setembro atingiu R$ 7,5 bilhões.

Os dados foram divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), órgão do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. A Embraer é a segunda maior exportadora do país e a primeira no ranking do Estado de São Paulo, seguida pela General Motors do Brasil, a Volkswagen e a Petrobras.

Fôlego financeiro

Para o analista de investimentos da Corretora HSBC, Fábio Zagatti, a Embraer ainda tem muito fôlego financeiro para superar esse período de dificuldades. No próximo dia 19 de novembro a empresa reunirá, em São José dos Campos, os analistas e investidores de mercado para divulgar suas estimativas de vendas para o ano de 2006. "O mercado ainda não apresenta condições para avaliar as perspectivas comerciais da empresa nos próximos meses. Hoje o volume de pedidos firmes da Embraer ainda é relevante", avalia.

Redução de lucro dos clientes

A Embraer viveu um processo de crescimento significativo no primeiro semestre deste ano, mas a alta do preço do petróleo e a competição acirrada por parte das linhas aéreas de baixo custo, reduziram a lucratividade das maiores clientes da empresa. "Essa situação, que culminou com o pedido de concordata da US Airways, está exigindo das grandes companhias aéreas uma atitude de reconceituação do seu negócio", avaliou recentemente o presidente da Embraer, Maurício Botelho.

As companhias de baixo custo, assim como as linhas aéreas tradicionais e as regionais começaram a penetrar em mercados que exigem aviões menores. Elas estariam saindo dos tradicionais Boeing 737-700 e Airbus A 320 e indo para os aviões da categoria de 100 lugares. "Estamos vendo uma convergência dos três setores do transporte aéreo para os aviões na faixa de 70 a 100 lugares e a Embraer, neste contexto, está muito bem posicionada".

No período de março a setembro, segundo Botelho, a Embraer entregou mais de 35 aviões do modelo 170. "Isso é desafiador, pois trata-se de um avião que exige um volume muito maior de mão-de-obra, além de ser mais complexo em relação aos sistemas da família dos jatos ERJ-145 (de 37 a 50 lugares)". O momento atual, na visão do executivo é, ao mesmo tempo, extremamente positivo e desafiador. "Estamos saindo de 101 aviões entregues em 2003 para 145 este ano, mas também é um momento em que um cliente importante como a US Airways declara concordata".

A Embraer aguarda para as próximas semanas uma definição sobre os rumos do processo de concordata da US Airways. As entregas de aeronaves para a empresa estão suspensas. Quatro aviões estão prontos na Embraer, mas não podem ser entregues, porque não existe financiamento.

O contrato com a US Airways previa a entrega de 36 aeronaves este ano. A Embraer entregou 22, sendo 15 com financiamento da Gecas e sete com financiamento provisório do contas a receber da Fabricante brasileira.