Título: Copom eleva a Selic para 17,25%
Autor: Jiane Carvalho
Fonte: Gazeta Mercantil, 18/11/2004, Finanças & Mercados, p. B1

Questionado pelo setor produtivo, o aumento do juro ganha aplausos no mercado financeiro. O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, confirmou as expectativas do mercado financeiro e aumentou ontem a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, de 16,75% ao ano para 17,25%. Não foi adotado viés, o que significa que a taxa não pode ser alterada antes da reunião de dezembro. Com isso, o juro real voltou a passar dos dois dígitos: subiu de 9,97%, em outubro, para 10,38% agora. Este é o segundo aumento consecutivo de 0,5 pp na Selic. A decisão de ontem foi unânime o que pode significar que o aperto na política monetária terá seqüência em dezembro.

O diretor-executivo do banco Itaú, Sergio Werlang, considerou acertada a decisão do Copom. "A ata da reunião de outubro já trazia os sinais de que o comitê daria prosseguimento ao aperto agora em outubro com o objetivo claro de perseguir a meta de inflação de 5,1% para 2005", lembrou Werlang. Um dos fatores que o economista cita como determinantes na decisão do Copom é o ritmo de crescimento da atividade econômica, que vem desacelerando, mas ainda segue em níveis altos.

Na terça-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que houve expansão de 7,6% na produção industrial em setembro, em comparação com o mesmo período de 2003. No entanto, o nível de atividade da indústria ficou estável em setembro na comparação com agosto. A estabilidade interrompeu uma trajetória de seis meses de crescimento. Já no acumulado do ano, o crescimento está em 9%.

O fato de a decisão ter sido unânime também é considerado importante para prever os próximos passos do Copom. "Isto mostra coerência no grupo e é um sinal de que o BC não vê hoje melhoras significativas na economia que justifiquem uma interrupção na trajetória de elevação da Selic", diz o economista Cristiano Oliveira, do banco Schahin. "Para alguns, o ajuste poderia prosseguir de forma suave, mas a decisão unânime de elevar novamente a taxa mostra que o aperto poderá ser, na melhor das hipóteses, moderado", conclui.

O economista-chefe do ABN Amro Asset Management, Hugo Penteado, também considera acertada a decisão do Copom. "O comitê mostra que a política está sendo conduzida para combater a demanda potencial de maneira preventiva, e não como no passado quando as decisões eram tomadas como conseqüência deste aumento", diz Penteado. "O aperto deve continuar na reunião de dezembro."

Boatos de emissão soberana

O risco Brasil alcançou ontem o menor nível em 10 meses. O indicador - referência para medir a capacidade do país de honrar as obrigações com seus credores - caiu 1,78% e somou 430,28 pontos. Este é o nível mais baixo desde o dia 27 de janeiro, quando o risco chegou a 427,51 pontos.

Segundo operadores, o Brasil pode lançar hoje ou amanhã um novo bônus no mercado internacional. Pela primeira vez na história do País, segundo estes mesmos operadores, o título será denominado em reais. Segundo analistas, o sucesso de uma operação em moeda nacional representaria um sinal de confiança dos investidores estrangeiros.O risco Brasil reflete o retorno médio dos títulos da dívida externa. Um risco em torno de 400 pontos, por exemplo, significa que o governo tem de pagar juros de 4% a mais do que os EUA para conseguir empréstimos no exterior. Quanto menor for o risco, mais fácil e barato fica captar dinheiro no mercado internacional. Calculado pelo banco americano JP Morgan, o menor risco Brasil da história foi de 337 pontos, alcançado em 22 de outubro de 1997. O recorde foi de 2.443 pontos em 27 de setembro de 2002.