Título: Criador do sul do Pará quer fim de restrições
Autor: Raimundo José Pinto
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/08/2004, Agribusiness, p. B-121

Uma decisão mais política do que técnica. É assim que os pecuaristas do Norte estão vendo a barreira à saída do gado do sul e sudeste do Pará (zona 1). Essas regiões concentram 75% das 15 milhões de cabeças. Apesar de há vários anos sem foco de aftosa e com elevado índice de vacinação, estão impedidas de exportar seus rebanhos para outras partes do País. A barreira provocou forte queda no preço da arroba, deixando os pecuaristas sujeitos à imposição de preços por parte dos frigoríficos instalados no estado.

A zona 1 do Pará já deveria alcançar classificação de livre de febre aftosa com vacinação para liberar a produção para outros estados e para exportação. Mas a Organização Mundial de Saúde Animal (IOE) decidiu fazer novas exigências em termos de sorologia ao Brasil quanto à homologação de zonas livres da febre aftosa, como no Pará, adiando por mais um ano a liberação.

O pecuarista Benedito Mutran Filho disse que o sentimento dos produtores é de frustração. O anúncio da liberação chegou a ser feito pelo ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, e comemorado pelo governador Simão Jatene. "A situação é de certa forma incompreensível", disse Mutran.

Segundo Mutran, o pecuarista no Pará paga um preço alto por causa dessa barreira à aftosa. Para ele, estados como Goiás e Tocantins se tornaram livres da aftosa porque houve vontade política. Mutran advertiu que os produtores têm de cumprir sua parte. Mas ressalta que, pelo menos na região em que suas fazendas estão localizadas, no sul e sudeste do estado, o índice de vacinação em 2003 atingiu 93%, quando a IOE exige um mínimo de 80%.

O produtor garante que o problema da aftosa prejudica os investimentos no setor. "A atividade está se tornando gravosa. Quem pode dizer que tem lucro vendendo um boi de excelente qualidade a R$ 45 reais a arroba, quando em São Paulo vale R$ 62 e no Tocantins e Goiás R$ 57 reais? E ainda ficamos de pires na mão pedindo para os frigoríficos comprarem nossa boiada".

O criador Djalma Bezerra disse que a aftosa atrapalha o desenvolvimento da genética e avilta os preços dos animais comerciais. Bezerra acredita que houve precipitação na comunicação do caso de aftosa em Monte Alegre. "Esse caso ocorreu a 800 quilômetros da área livre, numa região completamente isolada. É como se estivéssemos em Uberaba e ocorresse um surto no Rio Grande do Sul e, por isso, Uberaba fosse penalizada, como está ocorrendo com o Pará". Ele acha que a aftosa está prejudicando muito a vocação natural do Pará para o agronegócio.

O zootecnista Guilherme Minssen acha que a barreira no Pará é questão mais política do que sanitária. Para ele, a barreira deve ser melhor avaliada porque, além do elevado índice de vacinação, existe no estado equipe treinada para tratar do assunto, com profissionais competentes. O maranhense Nelson Frota disse que o sul do Pará estaria livre da aftosa se não tivessem sido criados tantos obstáculos.