Título: Brasil quer recuperar participação no mercado
Autor: Alexandre Inacio
Fonte: Gazeta Mercantil, 18/11/2004, Agribusiness, p. B12

Depois de perder posição nos negócios, País aproveita recuperação nos preços para reconquistar sua fatia de 30%. Depois de perder participação no comércio internacional de café em 2003, o Brasil se prepara para iniciar um movimento de retomada do mercado. Este ano, o país deve ficar com uma fatia de 29,7% das exportações mundiais do grão, com os embarques totalizando 26 milhões de sacas, de um volume global da ordem de 87,5 milhões de sacas.

"A participação do café brasileiro no mercado internacional este ano será semelhante à do ano passado. Para 2005 já deveremos chegar a 30% do total", afirma Guilherme Braga, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).

A expectativa de aumento da parcela de café brasileiro no mercado internacional é baseada no aumento das cotações nas bolsas internacionais e a elevação do preço médio das exportações nacionais.

Já a saca de 60 quilos exportada pelo Brasil alcançou preço médio de US$ 78,36 em outubro, uma valorização de 21% sobre o mesmo período do ano passado. Esse é o mais alto valor registrado desde janeiro de 2001. "Além do plano de retenção que nos fez perder mercado, o governo prorrogou o prazo de pagamento da dívida da cafeicultura de fevereiro de 2003 para fevereiro de 2005. Como a garantia é café, esse produto ficou fora do mercado e deverá estar disponível para comercialização no começo do ano que vem", explica Braga.

Apesar de haver uma tendência para atingir níveis anteriores de participação, o Brasil vai encontrar forte concorrência no mercado, principalmente do Vietnã. Em dez anos, o país asiático saltou de uma participação de 5,2% em 1995 para uma expectativa de fechar 2004 detendo 16,5%. No mesmo período, o crescimento brasileiro passou de 21,3% para os atuais 29,7%.

A participação vietnamita mais do que triplicou em dez anos, o que é atribuída à valorização do café robusta nos anos 90. Com a elevação dos preços no mercado internacional nesse período, as exportações do Vietnã passaram de 3,54 milhões de sacas em 1995 para 11,61 milhões em 2000, aumento de 227%. Para 2004, no acumulado dos últimos doze meses encerrados em setembro, os dados da Organização Internacional do Café (OIC) indicam uma exportação de 14,4 milhões de sacas.

"O resultado do aumento das cotações foi o estímulo à produção que incentivou a exportação. Mas quando os preços de Londres caíram para menos de US$ 600 a tonelada a participação vietnamita também recuou", explica Braga.

A expectativa de aumento da participação brasileira por parte dos exportadores é contestada pelo setor produtivo. A forte queda nos preços observada nos últimos cinco anos desestimulou a produção nos principais países produtores. "Não vamos conseguir aumentar nossa participação no mercado internacional simplesmente porque não temos produto para exportar", afirma Oswaldo Henrique Paiva Ribeiro, presidente do Conselho Nacional do Café (CNC).

Na avaliação do representante dos produtores, a queda nos preços dos últimos anos fez com que os agricultores deixassem de investir em tecnologia. "O preço baixo desestimulou os investimentos. Nosso custo médio de produção está em R$ 220 a saca e o mercado só começou a reagir este ano", explica Paiva.

O raciocínio do presidente da CNC é válido na opinião de José Vicente Ferraz, analista da FNP Consultoria. "A crise que gerou os preços baixos não ocorreu apenas para o Brasil, mas para todos os produtores. Se o Brasil retirou café do mercado porque investiu menos em tecnologia, seguramente os demais produtores fizeram o mesmo", afirma Ferraz.