Título: Brasil, China, e Argentina criam normas para a soja
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Fonte: Gazeta Mercantil, 18/11/2004, Agribusiness, p. B12
A China concordou em formar um grupo de trabalho para evitar paralisação do comércio de soja, que movimenta US$ 5 bilhões, com a Argentina e o Brasil e evitar que a questão se transforme numa disputa na Organização Mundial do Comércio (OMC).
Os agricultores de Brasil e Argentina podem vir a pedir que a OMC investigue as normas chinesas que impedem a entrada de óleo de soja bruto importado, disse Raul Padilla, presidente da Câmara do Setor de Óleo Comestível da Argentina. A China reduziu pela metade a quantidade máxima de resíduos de solvente permitida no óleo comestível importado, exigindo um nível de pureza que os produtores sul-americanos não conseguem atender.
A Argentina provavelmente entrará com uma ação na OMC caso não se chegue a um acordo "dentro de semanas ou meses", disse Padilla, que é também o principal executivo das operações da Bunge Ltd. na Argentina. As declarações foram concedidas em uma entrevista em Buenos Aires. "Não temos muito tempo".
Li Changjiang, diretor do Departamento de Inspeção de Qualidade da China, encontrou-se em 15 de novembro com Alejandra Sarquis, uma das diretoras da Secretaria de Agricultura da Argentina, antes da visita do presidente chinês Hu Jintao ao país sul-americano. A reunião visava tratar do receio existente entre os produtores sul-americanos de soja e óleo de soja de que possam vir a perder seu maior mercado comprador.
As importações de soja da China, quase que totalmente provenientes do Brasil e da Argentina, caíram 16% em setembro, passando a 242.984 toneladas, segundo as autoridades chinesas. Nos primeiros nove meses deste ano, as aquisições chinesas do produto cresceram 71%, totalizando 2 milhões de toneladas.
A economia chinesa cresceu a uma taxa anualizada de 9,5% nos primeiros nove meses de 2004, proporcionando a sua população de 1,3 bilhão de habitantes mais dinheiro para comprar carne bovina e de frango - animais alimentados com ração preparada à base de soja. Também aumentou a demanda por soja e óleo de soja utilizados no preparo do tofu, macarrão instantâneo e batatas fritas.
O grupo de trabalho também discutiu os critérios de inspeção implementados pelo departamento de Li. Esses critérios impediram a entrada na China de mais de 300 mil toneladas de soja sul-americana supostamente contaminadas. Isso fez com que as importações de setembro caíssem 52% em relação ao mesmo período do ano passado e 21% nos nove primeiros meses de 2004. "Precisamos que a China nos diga com antecedência exatamente quais são seus padrões de qualidade e não deixe para nos informar que não preenchemos os critérios após nosso produto ter chegado a seus portos", disse Alberto Rodriguez, diretor-executivo da câmara de óleos comestíveis. "Eles impõem essas barreiras comerciais técnicas quando os preços sobem e provavelmente voltarão a fazê-lo quando os preços subirem de novo".