Título: Cai verba destinada à pesquisa agropecuária
Autor: Eduardo Campos
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/08/2004, Agribusiness, p. B-12

O agronegócio tem no horizonte um perigo que pode por em xeque a condição de carro-chefe das exportações brasileiras: a contínua queda de recursos destinados à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O alerta é do presidente da Câmara de Ciências Agrárias, José Levi Pereira Montebelo.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostram que os investimentos oficiais destinados à pesquisa em relação ao Produto Interno Bruto do Agronegócio caiu para 10% do que era há 9 anos.

Segundo Levi, essa queda não tem efeito imediato. Ele calcula que o tempo entre o início de uma pesquisa e sua plena utilização pelo mercado varia entre 5 a 10 anos. "Hoje nós estamos usufruindo das tecnologias desenvolvidas nas últimas décadas. Se não recuperarmos esses investimentos, podemos, dentro de cinco ou seis anos, amargar a perda de mercado por falta de competitividade", afirma Levi.

Foram os pesados investimentos das últimas décadas, afirma, que fizeram a produção crescer 124% de 1990 a 2003, utilizando quase a mesma área de plantação. "O que nos colocou no mundo como exportadores, com uma das melhores tecnologias tropicais do mundo, foi a pesquisa, a tecnologia agronômica", conclui Levi.

O ex-presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e atual pesquisador da instituição, Eliseu Alves, lamenta a queda dos recursos destinados pelo governo à entidade. Segundo ele, é verdade que grandes produtores hoje estão capitalizados e têm condições de investir em pesquisa por conta própria ou em parceria com o governo. "Mas os principais prejudica-dos serão os pequenos agricultores", afirma.

Futuro ameaçado

De 1992 a 2003, o orçamento anual da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) caiu R$ 1 bilhão, para R$ 778,6 milhões, em termos nominais. Desse total, apenas R$ 105,5 milhões foram investidos em pesquisa. "Isso é lamentável, pois o governo brasileiro está vivendo do passado, e não estamos deixando para o futuro, um estoque de conhecimento que poderia ajudar a agricultura brasileira a vencer a competição que está chegando com a abertura dos mercados", diz o ex-presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e atual pesquisador da instituição, Eliseu Alves.

Segundo ele, à medida em que os subsídios forem sendo eliminados, os países desenvolvidos vão investir cada vez mais em pesquisa, eliminando os agricultores incompetentes que impedem uma maior competição. "Eu tenho certeza que nós vamos perder mercado futuramente", prevê Alves. "Matando a pesquisa hoje, desanimam-se os pesquisadores e a recuperação torna-se quase impossível. Instituição que entra na UTI, não sai mais de lá", alerta.