Título: Caos no acesso rodoviário a São Luís paralisa o transporte
Autor: Franci Monteles
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/08/2004, Gazeta do Brasil, p. B-14
Os ônibus vans e caminhões que transportam passageiros e produtos para São Luís vão ser obrigados a esperar até a próxima quarta-feira para ter acesso à ilha por meio da ponte metálica da Companhia Ferroviária do Nordeste (CFN), que está sendo adaptada para receber o tráfego de veículos pesados, de acordo com informação do diretor do Departamento Nacional de Intra-estrutura e Trânsito (Dnit), Leônidas Caldas. O Ministério dos Transportes já disponibilizou recursos no valor de R$ 10 milhões para os trabalhos.
Cabos rompidos
O acesso de veículos pesados está interrompido desde o último sábado, quando os cabos de proteção da ponte Marcelino Machado, sobre o Estreito dos Mosquitos, romperam depois da passagem de duas carretas pesando 70 toneladas cada. O governador José Reinaldo Tavares já decretou estado de calamidade na área de abrangência da ponte.
O diretor do Dnit no Estado disse ontem que os trabalhos para a adaptar a ponte metálica, que mede 112 metros de comprimento, já foram iniciados. No momento estão sendo produzidas as peças de madeira e de aço para colocar sobre os trilhos da ponte e fazer a adaptação necessária que permita o tráfego de caminhões com segurança. O trabalho só vai ser concluído em oito dias, informou.
Risco de desabastecimento
Como a ponte é o único elo de ligação rodoviária entre São Luís e o continente, há o risco de desabastecimento. Mais de 90% de produtos, principalmente alimentícios, consumidos em São Luís, são importados de diversas partes do país e chegam de caminhões. Cargas como laranja, tomate, cebola e ovos destinados à Ceasa (central de hortifrutigranjeiros) já foram danificadas.
Impedidos de atravessar a ponte sobre Estreito dos Mosquitos, mais de mil caminhões estão parados ao longo da BR-135, de acordo com estimativa do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas do Maranhão. Do lado do continente a fila de carros ao longo da estrada se estende até o município de Miranda, a 150 quilômetros de São Luís. O custo diário de um caminhão parado chega a R$ 1 mil, segundo o presidente do sindicato, Benjamim Franklin.
"Os prejuízos são muitos. Os caminhões trazem produtos perecíveis e algumas cargas já se deterioraram. As transportadoras correm o risco de pagar multas. O desvio via ferry-boat, além de não atender a demanda de carros, tem um custo adicional de tempo e dinheiro", disse Benjamim Franklin ao enumerar os prejuízos.
O presidente do sindicado ressaltou ainda que caminhoneiros do Sul e Sudeste do país já se recusam a fazer freta para São Luís. Algumas empresas estão optando por embarcar caminhões e carretas em ferry-boat, com saída da localidade de Cujupe, no município de Pinheiro. Apesar de realizar viagens extras, este tipo de embarcação carrega apenas seis veículos pesados por viagem, que dura menos de uma hora.
Além do ferry-boat, algumas empresas estão utilizando os trens da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) para transportar os caminhões até São Luís pela Estrada de Ferro Carajás (EFC). Os carros são embarcados em vagões plataformas na cidade de Santa Inês, a 245 quilômetros da capital, embora não faça parte do transporte da empresa.
Alimento é prioritário
"A empresa está colaborando para facilitar a chegada dos produtos a São Luís", informa o coordenador de Apoio Operacional da EFC, André Vasconcelos. Diz que a demanda pelo transporte deve ser grande, mas a prioridade vai ser dada a alimentos e material hospitalar. Ainda não há um aumento da venda de passagens no trem de passageiro, mas também pode vir a ser uma alternativa para entrar ou sair de São Luís.
Ao mesmo tempo em que faz a adaptação da via metálica, o Dnit já contratou uma empresa que está fazendo o escoramento da ponte de concreto Marcelino Machado. Apenas carros pequenos têm acesso liberado.
Hoje pela manhã, em Brasília, o governador José Reinaldo Tavares se reúne com o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento. O governador pretende solicitar modificações no projeto original de uma outra ponte sobre Estreito dos Mosquitos, cuja obra foi iniciada há menos de cinco anos e nunca foi concluída. José Reinaldo também quer que a obra seja concluída no prazo de 90 dias.
O recurso liberado pelo ministério, segundo Leônidas Caldas, visa atender à construção da nova ponte e os trabalhos de recuperação. O custo de construção da nova ponte está sendo reavaliado. "A estimativa anterior está defasada", explicou. Para o presidente da Associação Comercial, Luiz Carlos Cantanhêde, o problema na atual ponte já era previsto. "Isso é nefasto para o Estado. O governo federal deixou acontecer", disse. O acesso de veículos pesados está interrompido desde sábado