Título: O novo guru... - Pág. 12
Autor: Rosana Hessel
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/08/2004, Primeira Página, p. A-1

Don Tapscott foi o principal palestrante do quarto IT Business Forum, organizado pela IT Mídia na Ilha de Comandatuba, em Una (BA), encerrado no último dia 22 e que reuniu um grupo de 82 executivos das maiores empresas brasileiras do setor, responsáveis por um faturamento de R$ 260 bilhões. "Depois da apresentação, grande número de executivos mostrou interesse e deverei voltar mais vezes ao País", diz. Em abril, também voltará ao Brasil para participar de outro evento da IT Mídia.

O estrategista canadense faz questão de criticar o artigo "TI não importa", do editor da Harvard Business Review, Nicolas Carr, no qual ele questiona o papel estratégico da TI e afirma que sua gestão se tornará enfadonha. Para ele, a TI é hoje um dos principais mecanismos de diferenciação para dar à empresa vantagens competitivas.

Na opinião de Tapscott, algumas tecnologias estão se tornando commodities e outras já são, como o hardware (PCs, principalmente) e serviços de TI. Com o software, a realidade é outra. Alguns podem virar commodities, pois a base é elevada e não há diferenciação do produto de uma empresa para outra, como é o caso do sistema operacional Windows ou do processador de texto Word. Por outro lado, softwares mais complexos, como os sistemas de gestão integrada, ou ERPs (do inglês Enterprise Resource Planning) não devem virar commodity, pois são mecanismos de competitividade no mercado. "Esses ERPs são diferentes em cada empresa, pois cada implementação é única. Essa tecnologia pode mudar o negócio, o modo de produção e a maneira de relacionamento da empresa com a cadeia de fornecedores, inclusive", diz Tapscott.

Transparência

Na opinião de Tapscott, para ser uma "naked corporation" as empresas precisam ter valor ¿ que implica ter produtos de qualidade ¿ e ética, ou seja, precisa ser confiável e coerente. "Se seu produto não tem valor, você também não tem valores. Se não tem integridade, não há como ser confiável. Trata-se de uma relação de confiança entre o cliente e a empresa", diz, acrescentando que o acionista, o funcionário e o cliente formam o tripé para a base de um relacionamento de transparência.

"É uma nova mudança de paradigma. E uma das principais mudanças nas corporações neste novo século", diz Tapscott, que também escreveu o livro "Paradime Shift: The New Promise of Information Technology", publicado em 1992. Foi o primeiro livro que descreveu a mudança fundamental na computação, quando ela migrou para os sistemas em rede. Ele lembra que os escândalos por conta das fraudes contábeis da Enron, WorldCom e Parmalat reforçaram ainda mais essa necessidade da transparência nos negócios. "Essa discussão é nova não só no Brasil, mas também no resto do mundo", diz.

De acordo com Tapscott, a transparência é uma velha força com novo poder que alavanca os negócios e tem implicações para a maioria das pessoas. Nascida na metade do século, essa força vem gradualmente ganhando importância ao longo da última década e agora provoca mudanças em corporações em todo o mundo. "Para os executivos que adotam essa filosofia, se a empresa tiver problemas com o produto, a primeira pessoa que deve ser avisada é o cliente. Pois, se há problemas, ele vai descobrir. E se a empresa consegue avisá-lo antes, ele confiará mais na empresa", diz.

Tapscott cita como exemplo de empresa transparente a seguradora norte-americana Progressive Insurance, especializada em seguro de alto risco para pessoas. A empresa divulga na internet seus preços e os de seus concorrentes. "A companhia publica seus números de desempenho financeiro mensalmente. É a única entre as 50 empresas com melhor performance na América a fazer isso", diz.

De acordo com Tapscott, com a internet ficou mais fácil ter acesso às informações sobre as empresas. "Pela web, todos têm acesso às informações e sabem o que está ocorrendo rapidamente. As corporações estão ficando desnudas e muitas empresas começam a entender que é importante ser ético e é necessário se mostrar. Com isso, elas descobrem o poder da honestidade. O resultado é uma empresa mais rentável e que consegue se manter no mercado", diz.

Para ser uma "naked corporation", é preciso ser uma empresa aberta, informa o estrategista canadense. "E, para isso, é preciso ter tecnologia aberta e uma arquitetura baseada em padrões firmes que busquem conquistar tanto os clientes como os fornecedores. No entanto, ser aberto não significa que a empresa vai escancarar seus segredos estratégicos", ressalta o executivo. Segundo ele, segurança e transparência não são inimigas e andam de mãos dadas. "Se a empresa não é aberta é perigoso, pois as pessoas vão tentar descobrir o que ela esconde a todo custo. Se ela abre as informações e publica seus balanços na internet, acaba ficando mais segura", diz Tapscott.

Para o consultor, a empresa não pode se esconder. "O segredo é o inimigo da segurança. A abertura é amiga da segurança", diz, citando o caso da Progressive Insurance. "Ela se fortaleceu no mercado por colocar seus preços e os dos concorrentes na internet. Apesar de o preço dela ser mais caro que os outros, as pessoas começaram a fazer seguro com ela porque achavam que era uma empresa confiável", explica.

Projetos no Brasil

Tapscott pretende voltar ao Brasil antes do final do ano para conversar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus ministros. Ele costuma fazer isso para governos de países em desenvolvimento com o objetivo de ajudá-los, sem cobrar pela consultoria. "Sempre procuro agendar encontro com líderes para descobrir novas oportunidades para o País", diz, acrescentando que um dos tópicos da discussão será a inclusão digital. "A exclusão digital é um dos principais problemas em uma sociedade em desenvolvimento", diz.

No entanto, ele reconhece que esse tema é mais complexo do que parece, especialmente quando se fala de uma população com milhões de analfabetos e pessoas passando fome. "É muito mais complicado, eles precisam de saúde, comida e cuidado. A internet é a nova infra-estrutura para o desenvolvimento social. Se ela aumentar e alcançar toda a população, ela se torna importante. Assim, os excluídos vão conseguir emprego, comida, saúde e educação. Pela internet é mais fácil ter educação de qualidade a um custo muito baixo", diz.

O estrategista acredita que existem grandes oportunidades no Brasil e é necessário ter uma liderança forte para executar essas oportunidades. No longo prazo, empresas não podem ter sucesso em sociedades falidas. É preciso ter sociedades e países saudáveis para ter mais empresas saudáveis. Os lideres de negócio precisam cuidar mais do sucesso do País. Essa idéia começa a ser cada vez mais difundida", diz. "O Brasil possui infra-estrutura de TI interessante e custo de mão-de-obra muito competitivo", diz Tapscott, acrescentando que a Celestica pretende aproveitar a oportunidade do País e exportar serviços de TI. "No longo prazo, empresas não podem ter sucesso em sociedades falidas"