Título: Lessa deixa o BNDES; Mantega assume segunda
Autor: Otto Filgueiras, Janaína Leite, Romoaldo de Souza
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/11/2004, Primeira Página, p. A1

Pressão da corrente monetarista motivou demissão. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva demitiu o presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Carlos Lessa, depois de recebê-lo ontem em audiência por duas horas no Palácio do Planalto. Carlos Lessa será substituído pelo ministro do Planejamento, Guido Mantega, que será empossado no novo cargo na segunda-feira.

A saída de Carlos Lessa não surpreendeu. Ocorre num momento em que Lessa, fazendo ecoar as queixas generalizadas de lideranças empresariais contra o "império do Copom" (Comitê de Política Monetária do Banco Central), por frear, com a sua política de juros, a expansão da economia, elevou o tom de suas críticas a ponto de comprometer a coesão da equipe governamental, caso fosse mantido à frente da instituição que dirigia.

Acadêmico brilhante, de temperamento altivo, dado a ironias, Carlos Lessa era tido por empresários do setor produtivo, em especial da indústria de base, como um dos técnicos mais capacitados para orientar a reconstrução da infra-estrutura física do Brasil. À sua saída, não se ouviu do setor produtivo nenhuma palavra de desaprovação à reorientação que imprimiu ao BNDES, retirando-o da condição de "balcão de curto prazo" e de "banco de socorro", para a de banco de fomento, obedecendo a uma opção estratégica pelo desenvolvimento.

"Lessa é um patriota e tinha uma visão rigorosa sobre os rumos do desenvolvimento do País, afirmou Paulo Godoy, presidente da Associação Brasileira da Infra-estrutura e Indústrias de Base (Abdib), numa alusão ao aprofundamento crescente do conflito entre "monetaristas" e desenvolvimentistas", que também caracterizou o governo anterior.

Alguns empresários, contudo, ponderam que Carlos Lessa não poderia permanecer no cargo que ocupava por colocar em risco, com a manifestação desabrida de suas opiniões, a unidade necessária na condução da política econômica.

"Não é possível admitir no âmbito da equipe do governo discussões sobre os rumos da política econômica", afirmou em nota distribuída à imprensa o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Armando Monteiro Neto. Otto Filgueiras, Janaína Leite, Romoaldo de Souza e Sérgio Prado