Título: No papel, ficamos mais ricos
Autor: Klaus Kleber
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/11/2004, Opinião, p. A3

A grande dúvida é a manutenção dos resultados em 2005. A cada semana que passa os analistas do mercado elevam as projeções de crescimento neste ano do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Agora, eles estão prevendo que a economia se expanda 4,60% em 2004, um resultado até espetacular quando se recorda o retrocesso de 0,2% registrado no ano passado.

O crescimento pode até ser maior, dependendo de como se faz a conta. Pelos números oficiais, o superávit em conta corrente (comércio exterior, serviços, rendas e transferências pessoais) foi de US$ 9,8 bilhões nos 12 meses encerrados em setembro, o que corresponde a 1,8% do PIB, segundo o Banco Central. Por uma regra de três simples, conclui-se que o PIB brasileiro é de US$ 558,7 bilhões. Pelo mesmo tipo de cálculo, o PIB nacional, nos 12 meses findos em setembro do ano passado, era de US$ 484,5 bilhões. Em termos nominais, houve uma expansão de 15,31%. Descontada a inflação americana e a inflação interna, a taxa cai para 5,27%.

O desencontro de 0,7 ponto percentual entre a projeção do mercado, e o cálculo feito a partir das contas externas é explicado pelo comportamento da taxa de câmbio ou, mais precisamente, pela sobrevalorização do real diante do dólar. No ano encerrado em setembro de 2003, a taxa média do dólar foi de R$ 3,27. De lá para cá, até setembro de 2004, a taxa média da moeda americana caiu para R$ 2,95.

Quer dizer, no papel ficamos mais ricos em dólares do que em nossos suados reais. Esse fato fica mais evidente quando se calcula a renda per capita. Usando o mesmo método, a renda per capita do brasileiro, que era de US$ 2.740 em setembro de 2003, subiu para US$ 3.119, um salto nominal de 13,84%. Descontadas as taxas de inflação externa e interna, e levando em conta que o Brasil tem agora 179,1 milhões habitantes (em setembro de 2003, éramos 176,9 milhões), a renda per capita avançou 3,96% este ano. Essa estimativa foi feita considerando um crescimento demográfico de 1,3% nos últimos 12 meses.

Seja qual for a renda per capita brasileira, cresçamos 4,60% ou 5,27% este ano, é um bom motivo para comemorar. A questão agora é saber se estamos ou não saindo da estagnação. Há fortes dúvidas. Com a nova paulada do Copom, elevando o juro básico para 17,25%, dando ainda mais rédea à especulação financeira, reprisar o desempenho deste ano será muito duro depois do réveillon de 2004.

kicker: Será possível que a rendaper capita do brasileiro já tenha chegadoa US$ 3.119?