Título: Copom sinaliza que Selic pode aumentar
Autor: Edna Simão
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/08/2004, Finanças & Mercados, p. B-1
Dependendo da inflação e do petróleo, virá um "ajuste na taxa básica". A ata do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, divulgada ontem, reforçou os sinais de que os juros não só não devem cair até o fim do ano, como podem até elevar-se - o que ocorreria até novembro, segundo profissionais do mercado financeiro. A frase-chave, que fecha o documento, admite a possibilidade de que o cenário "venha a requerer um ajuste na taxa básica", se persistir o novo patamar de preços do barril de petróleo no mercado internacional e se as estimativas de inflação para 2005 - que superam a meta central - não voltarem a cair. Nesse caso, o Copom adotará uma "postura mais ativa da política monetária". "É impossível dizer mais claramente que existe possibilidade concreta de elevação", diz Alexandre Póvoa, sócio-diretor da Modal Asset Management.
Na última reunião, na semana passada, o Copom decidiu manter em 16% ao ano, pelo quarto mês consecutivo, a taxa básica de juros (Selic). A Confederação Nacional da Indústria (CNI) criticou a possibilidade de novo aumento de juros. O economista da CNI, Flávio Castelo Branco, afirmou que uma elevação da Selic "se constituiria em uma ducha fria nas expectativas dos agentes produtivos".
"O quadro não está consolidado em relação a um ou a outro fator de exacerbação (petróleo e inflação) e o Copom precisará permanecer atento a novos desenvolvimentos das duas frentes", amenizam os diretores do BC na ata. Segundo o documento, o "forte" crescimento da atividade econômica, que pode provocar pressões inflacionárias, também é motivo para "cautela redobrada". Tanto as análises feitas pela autoridade monetária quanto as do mercado apontam para uma inflação acima do centro da meta para 2004 e 2005, respectivamente de 5,5% e 4,5%.
A ata do Copom afirma que, mesmo diante da hipótese de um ajuste para cima dos juros, ele não causará prejuízos ao processo de crescimento econômico do país. "É preservando seu compromisso com o combate aos efeitos de segunda ordem dos choques de oferta que possam se materializar, e com a manutenção da necessária compatibilidade entre o ritmo de crescimento da demanda e da capacidade produtiva da economia, que a política monetária dá sua contribuição fundamental ao crescimento sustentável", ressalta a ata.
Na visão dos diretores do BC, manter a trajetória da inflação compatível com as metas é essencial para que se preservem os ganhos da renda real do trabalhador, que viabilizam uma expansão persistente e equilibrada dos diversos setores da demanda doméstica.
No cenário internacional, a principal preocupação é com a forte alta dos preços do petróleo. Para o Copom, desde a última reunião, aumentaram os riscos de um reajuste maior da gasolina em 2004 ou de uma defasagem maior que ficasse para 2005. Por enquanto, a previsão para aumento da gasolina este ano continua sendo de 9,5% - levando em conta, porém, um barril a US$ 35, preço menor que o atual. "Independente do que ocorra com os preços domésticos da gasolina, deve-se reconhecer que a elevação dos preços internacionais do petróleo se transmite de qualquer forma à economia doméstica, em parte através de cadeias produtivas como a petroquímica, e também pela deterioração que termina produzindo nas expectativas de inflação dos agentes privados", advertem os diretores do BC.
Na opinião de Castelo Branco, da CNI, a ata do Copom não trouxe novidades além da ameaça de elevação dos juros. "É uma avaliação negativa e um claro sinal, já externado em meses anteriores, de que o BC pode vir a elevar os juros no futuro para ajustar a trajetória da inflação para as metas", disse.
B-2kicker: "Forte" ritmo da retomada do crescimento exige "cautela redobrada", diz o BC