Título: VCP amplia investimentos no RS
Autor: Rita Karam
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/11/2004, Indústria & Serviços, p. A12

Empresa prevê R$ 170 milhões para 2005 e oferece programa de fomento diferenciado na região. A Votorantim Celulose e Papel (VCP) planeja investir cerca de R$ 170 milhões na base florestal da empresa no Rio Grande do Sul em 2005, parte disso na aquisição de terras. Neste ano, o desembolso total deve ficar em R$ 160 milhões. Além do plantio próprio de eucalipto, a região terá um programa diferenciado de fomento e um dos maiores viveiros cobertos da América Latina, com capacidade para produzir 30 milhões de mudas por ano, no qual serão gastos R$ 7,5 milhões este ano e outros R$ 20 milhões no próximo.

"Estamos nos tornando gaúchos", disse o diretor-superintendente da VCP, José Luciano Penido, que informou a intenção de acrescentar 12 mil hectares por ano ao volume comercial da empresa na região. Isso significa a aquisição de cerca de 22 mil hectares anuais, explicou o diretor florestal da VCP, José Maria de Arruda Mendes Filho. "Metade será plantada com eucalipto e a outra mantida como área de preservação", afirmou Mendes Filho. Em abril, quando anunciou o projeto florestal do Rio Grande do Sul, a VCP havia comprado 40 mil hectares, e encerra 2004 com 63 mil hectares em 14 municípios da metade Sul do estado, onde posteriormente a empresa poderá produzir celulose e papel.

Penido tem ressaltado o interesse da empresa em ampliar sua participação no mercado internacional. A venda de celulose e os papéis de imprimir e escrever são duas das principais áreas da VCP, que hoje tem capacidade para produzir 1,42 milhão de toneladas de celulose e 685 mil toneladas de papel.

O programa de fomento para o Rio Grande do Sul, batizado de Poupança Florestal, foi montado em parceria com o Banco Real e, segundo Penido, oferece uma série de diferenciais ao produtor rural. Entre eles, a garantia da VCP de compra de 95% da madeira obtida em dois ciclos de colheita (14 anos) com valores previamente acertados que serão corrigidos anualmente pela mesma taxa anual que o produtor pagará ao banco, de 9%.

Além disso, o produtor não terá que colocar a terra como garantia do empréstimo, uma das principais restrições dos produtores na hora de tomar empréstimos. "Será pedido apenas o compromisso de pagamento do produtor, o aval da esposa, e o penhor mercantil da floresta", afirmou Penido. A VCP será responsável pela doação das mudas e repasse de tecnologia, com suporte técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater).

O financiamento total será de cerca de US$ 35 milhões com prazo de sete anos, informou o superintendente executivo de produtos sócio-ambientais do banco, Victor Hugo Kamphorst. De acordo com o executivo há 1,5 mil inscritos no programa e a expectativa é de chegar a 3,5 mil até o final do mês. Até agora a grande maioria são médios produtores, que pretendem destinar entre 20% e 30% das terras para o programa. A exigência é de que esse percentual não ultrapasse os 50% da área total. O objetivo é que esse plantio seja feito junto com as culturas tradicionais da região.

Kamphorst explicou que o banco fará uma série de análises do candidato ao crédito e uma das principais garantias é o contrato de compra que a VCP está oferecendo aos produtores. Segundo Penido, o objetivo da VCP é fomentar a cada ano 5 mil novos hectares. Com essas ações, destacou Mendes Filho, se formará na região um pólo produtor que poderá atrair outros setores industriais com essa possível oferta.

Aumento no plantio

Segundo dados da Sociedade Brasileira de Silvicultura (SBS) o Brasil tem hoje cerca de 5 milhões de hectares comerciais plantados. Desse total, cerca de 3 milhões são de eucalipto, 1,8 milhão de pinus e o restante de outras culturas. O diretor-superintendente da SBS, Rubens Cristiano Garlipp, disse que o plantio no Brasil está retomando os níveis da década de 1980 quando era beneficiado por incentivos fiscais e alcançava entre 350 mil e 400 mil hectares por ano.

"O setor de base florestal é superavitário e um dos mais importantes vetores de desenvolvimento e o Brasil tem tecnologia avançada nessa área", afirmou Garlipp. Na avaliação do executivo, apesar da forte participação do setor industrial nesses investimentos, a tendência, a mais longo prazo, é de que eles sejam transferidos para terceiros. "A metade sul do Rio Grande do Sul tem um grande potencial e é economicamente carente. E o fomento vai contribuir para gerar desenvolvimento", afirmou, acrescentando que a iniciativa atrairá indústria para a região. Atualmente, disse, Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Paraná concentram as maiores áreas de plantio.

Penido informou que ainda não se sabe qual será a produtividade obtida na região, já que são áreas com características diferentes das mantidas pela empresa em São Paulo. Mas a expectativa é de alcançar o mesmo rendimento, atualmente são 45 metros cúbicos de madeira por hectare/ano.

O viveiro gaúcho contará com uma área de produção de 65 mil metros quadrados e um jardim clonal no qual serão desenvolvidas mudas específicas para o plantio na região. Será o quinto viveiro da empresa. Os demais, em São Paulo, produzem um total de 46 milhões de mudas de eucalipto por ano. A diversidade de clima, inclusive com geadas, definiu a opção pelo viveiro coberto, disse Mendes Filho. A empresa participa ainda de pesquisa sobre o genoma de eucalipto visando obter espécies mais produtivas.

A VCP alcançou receita recorde na venda de papéis no terceiro trimestre deste ano com R$ 491 milhões, 20% mais do que em igual período de 2003.