Título: Setor propõe novo ciclo de expansão
Autor: Ariverson Feltrin
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/11/2004, Transporte & Logística, p. A15

As montadoras reivindicam plano setorial para criar condições de crescimento sustentado. As montadoras instaladas no Brasil querem recriar um novo ciclo de crescimento da produção de veículos como o registrado entre 1990 e 1997, que passou de 914 mil unidades para 2,07 milhão de unidades. "Nesse período crescemos 12,4% ao ano, impulsionados pela estabilidade econômica e outros fatores positivos", disse ontem o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

Depois do circulo virtuoso, vieram as condições desfavoráveis - a indústria automobilística espelhou essa situação e só agora, em 2004, retomará a produção acima de 2 milhões de veículos.

As medidas de incentivos para acelerar a venda de carros, sinalizadas nos últimos dias pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, claro, foram bem recebidas pelas montadoras. Mas, Anfavea quer ampliar o debate sobre o setor. "Descartamos ações pontuais, imediatistas e de curto prazo. Nossa visão é estrutural. Precisamos de medidas que tragam crescimento sustentável", afirmou Golfarb.

Esboço de política setorial

O dirigente disse que a Anfavea levou a vários setores do governo um esboço de política setorial com pontos que pretende colocar em discussão. "Quando assumimos consensualmente essa tarefa, não imaginamos que uma decisão possa vir em seis meses, até porque a complexidade não permite imediatismo".

A Anfavea entende que os investimentos estão modestos demais. Em 1994 o setor aplicou no País um total de US$ 2,2 bilhões. Na época, havia 210 modelos em linha, média de US$ 10 milhões por modelo. Em 2003, com 500 modelos em fabricação, o investimento total caiu para US$ 1,3 bilhão, ou seja, US$ 2,6 milhões por modelo. "Precisamos triplicar o investimento em relação ao de 2003 para mantermos a qualidade e a competitividade".

Golfarb insistiu várias vezes no mesmo ponto: "O mundo todo disputa o mesmo bolo de investimentos. E o bolo não dá para todos". Para enfrentar os países do Leste Europeu, China e Índia, as subsidiárias brasileiras terão de provar às matrizes que o País oferece condições de crescimento duradouro e previsível.

Sem detalhar o esboço do plano setorial, a Anfavea informa que o projeto tem de oferecer mais do que benefícios fiscais para o consumidor. "Não podemos ter ações pontuais, imediatistas, mas sim de medidas que efetivamente garantam crescimento sustentado, previsível e de longo prazo", insistiu. E acrescentou. "O plano terá de promover uma reestruturação tributária para desonerar os investimentos. Não queremos tratar apenas de IPI e ICMS".

Discutir PIS e Cofins

Mesmo sem detalhar o "esboço" do plano, Golfarb deu algumas idéias da profundidade que se pretende chegar na reestruturação da indústria automotiva. "Precisamos discutir o PIS e o Cofins que oneram os serviços de nossa engenharia e que, com isso, comprometem investimentos em desenvolvimento". Deu outro exemplo do detalhe que se pretende chegar. "Precisamos rediscutir as garantias jurídicas de retomada dos bens dos inadimplentes". Além de facilitar a retomada, a medida baratearia o custo do financiamento

Golfarb listou as desvantagens competitivas do Brasil atualmente. "No aço, energia e telecomunicações perdemos pontos".

E também listou algumas vantagens. "Temos o 12º maior mercado do mundo e uma engenharia automotiva que pouquíssimos países dispõem mundialmente e que efetivamente trabalha para a redução dos nossos custos".