Título: KPMG vai criar comitê de credores
Autor: Lucia Rebouças
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/11/2004, Finanças & Mercados, p. B1
Objetivo é reduzir o tempo da intervenção para diminuir os prejuízos dos credores. A KPMG vai organizar um comitê de credores do Banco Santos, que vai reunir empresas clientes da consultoria e outros depositantes que compraram papéis emitidos pelo banco. O objetivo da iniciativa é buscar a solução mais rápida possível para a situação. "Sempre se sabe quando uma intervenção começa, mas nunca quando acaba. Quanto mais tempo, maiores as perdas do credores", afirma Eduardo Farhat, diretor de Corporate Recovery da KPMG.
A função do comitê será a de agir como interlocutor junto ao interventor e os representantes do banco e também de apresentar propostas para ajudar a evitar um processo de liquidação.
Segundo Farhat, a liquidação será o pior dos mundos para os credores. Entre as medidas que poderiam ser adotadas, o diretor da KPMG cita a redução dos créditos via capitalização, o que funcionaria, inclusive, como um veículo para ajudar a viabilização da venda do banco.
Outra medida que também pode ajudar no processo é tratar o banco como um grupo econômico, incluindo a Asset Management no processo de reestruturação. O valor de venda da Asset é calculado na faixa de 2% a 3% dos ativos por ela administradores, de quase R$ 3 bilhões, diz.
O comitê estará aberto aos depositantes de fundos de investimentos. Mas Farhat ressalta que a situação dos cotistas dos fundos é bem diferente da dos credores e a possibilidade de perda é menor. Isso, se as regras que regem o enquadramento dos fundos foram respeitadas, acrescentou.
Pela legislação em vigor, os fundos não podem ter em suas carteiras de investimentos mais de 20% de papéis de um mesmo banco e mais de 10%, no caso de títulos de empresas. No caso de fundos de pensão, o percentual é de 25% para títulos de um mesmo banco e 20% para empresa.
Perdas Limitadas
O presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Marcelo Trindade, afirmou que os cotistas de fundos administrados pelo Banco Santos terão perdas limitadas e estão em situação mais confortável do que os investidores que têm créditos a receber da instituição, conforme a Agência Reuters.
Trindade afirmou que o patrimônio dos fundos administrados pelo Banco Santos é composto principalmente por títulos do governo federal, o que lhes garante a solidez.
As perdas devem ocorrer, portanto, somente na parcela dos recursos investidos em papéis emitidos pelo próprio Banco Santos, como certificados de depósito bancário. Quem tem fundos brevemente vai receber, após o cálculo correto do valor das carteiras, grande parte de seus ativos, disse Trindade a repórteres durante seminário em São Paulo. Quem tem crédito, não. Quem tem crédito tem crédito contra um banco que está sob intervenção.
Na última terça-feira, a CVM congelou os fundos administrados pelo Santos, a pedido do interventor, Vânio César Aguiar, para impedir que algum cotista fosse beneficiado ao resgatar seu investimento por um valor maior do que ele realmente vale. Todos os limites estavam sendo observados. Se algum deles não foi observado, a CVM vai tomar as providências próprias no momento próprio. Ele assegurou que a CVM fiscaliza diariamente 6 mil fundos