Título: Dólar fecha em alta e juros futuros pioram projeções para 2005
Autor: Jiane Carvalho
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/11/2004, Finanças & Mercados, p. B1

Depois de quatro dias consecutivos de baixa, o dólar voltou a subir ontem em um movimento que os analistas chamam de "ajuste técnico". A moeda norte-americana fechou em alta de 0,58%, vendida a R$ 2,778. A maior parte dos operadores acredita que o ajuste pode prosseguir nos próximos dias, mas nada que altere a tendência de depreciação do dólar em relação ao real, por conta dos fundamentos econômicos favoráveis.

A alta na cotação registrada ontem, segundo o analista da corretora Liquidez Mario Paiva, ocorreu porque algumas instituições decidiram realizar lucro. "Quem comprou dólares quando a cotação estava mais baixa, achou que era o momento de mudar de posição, fazendo lucros antes de uma nova fase de desvalorização", diz Paiva.

O analista acredita que o ajuste para cima de ontem pode continuar por alguns dias, mas depois os bons fundamentos da economia voltam a ganhar peso e a tendência é de depreciação do dólar. "O fluxo comercial, por conta das exportações, continua positivo, o Banco Central tem demonstrado austeridade e seriedade no controle da inflação, além de não haver demanda por hedge", justifica Paiva.

O analista Júlio César Vogeler, da corretora Didier Levy, faz coro. "Hoje, não existe nenhum motivo para que a tendência de apreciação do real frente ao dólar seja revertida e o câmbio deve seguir na tendência de queda", diz Vogeler.

No mercado de renda fixa, o dia foi de ajuste nas projeções de juros futuros, por conta da elevação da Selic para 17,25% ao ano. Os contratos de Depósitos Interfinanceiros (DI) negociados na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) fecharam em alta. O DI de abril, o mais líquido com um giro financeiro de R$ 37,4 bilhões, sinalizou juro de 17,86% para a virada do primeiro trimestre do ano que vem, frente 17,68% do ajuste da véspera. Janeiro projetou taxa de juros de 17,41% para a virada do ano, contra 17,32% do ajuste.

Além da decisão do Banco Central de elevar a Selic, outros fatores contribuíram para a alta nos juros futuros. Operadores citaram a troca de cadeiras no governo, e prováveis conseqüências na condução do País, e os boatos envolvendo o Banco Santos. Só na área econômica, em menos de uma semana o governo registrou a saída do presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, e ontem do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Carlos Lessa. O outro boato que circulou foi o de que uma revista semanal teria uma reportagem sobre saques que teriam sido feitos no Banco Santos antes da intervenção do Banco Central.

No mercado internacional de títulos públicos, o C-Bond fechou com valorização de 0,25%. O principal papel da dívida externa brasileira terminou o dia vendido a 100,625% do valor de face. Até o fechamento do mercado brasileiro, a taxa de risco-Brasil, medida pelo JP Morgan, operava em retração de 1,39%, aos 424 pontos.