Título: Consumo no Brasil pode superar o americano
Autor: Alexandre Inacio
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/11/2004, Agribusiness, p. B12

O crescimento de 5,1% no consumo nacional de café registrado este ano não deve parar por aí. As 14,3 milhões de sacas utilizadas pela indústria em 2004 poderão ultrapassar a marca de 20 milhões de sacas em apenas cinco anos, dando ao Brasil a liderança no consumo mundial de café. A previsão não foi feita pelas indústrias nacionais, mas sim, do diretor-executivo da Organização Internacional de Café (OIC), Néstor Osorio.

"Acredito que nos próximos cinco anos o Brasil poderá superar os Estados Unidos no que se refere ao volume de café consumido, se tornando, além de maior produtor e exportador o maior consumidor de café do mundo", afirma Osorio.

Sucesso brasileiro

A expectativa do dirigente da OMC está baseada nos resultados que as indústrias brasileiras têm apresentado nos últimos anos. O crescimento no consumo do café no Brasil nos últimos oito anos cresceu 75%, passando de 8 milhões para as atuais 14 milhões de sacas anuais. "O Brasil tem uma vantagem em relação aos Estados Unidos, que é a produção. A oferta de produto é um ingrediente extremamente importante nessa situação", destaca Osorio. Para ele, o trabalho que as indústrias brasileiras têm feito é exemplo para outros países produtores.

Mas a oferta não é o principal segredo do Brasil na busca da liderança mundial do consumo. A qualidade do produto oferecido aos consumidores, segundo Osorio, é o trunfo das indústrias.

Concorrência vietnamita

"É a qualidade que aumenta o consumo. Um exemplo claro disso é o Vietnã, que aumentou de forma assustadora a oferta de café, mas não possui os elementos necessários para oferecer um produto de qualidade. É por isso que eles vendem a US$ 0,20 a libra".

Dados da OIC mostram que as exportações do Vietnã em 1994 foram de apenas 2,7 milhões de sacas. O volume saltou para 11,6 milhões de sacas no ano passado, um aumento de 329,6% na oferta internacional de seu café.

Já o Brasil aumentou suas exportações em 48,8%, elevando de 17,2 milhões para 25,6 milhões de sacas no mesmo período.

A grande diferença é que os preços do robusta no mercado internacional sofreram uma desvalorização superior ao arábica brasileiro.

Preços em queda

Enquanto o valor do produto nacional acumulou uma queda de 65% nos últimos dez anos, o robusta vietnamita passou uma retração de 68,6% em seus preços.

O sabor do café se constitui num importante instrumento de marketing para a indústria da torrefação amplie se mercado no País e desfrute de um mercado de grandes proporções.

Pesquisa encomendada pela indústria constatou que a qualidade do produto no Brasil também não tem agradado os consumidores. Entre as pessoas entrevistadas pela empresa de pesquisa InterScience, 8% dizem não consumir café dos quais, 33% falam que o motivo é o fato de o sabor não agradar. Essa constatação indica que as indústrias do setor precisam se empenhar para obter matéria de melhor qualidade para poder oferecer um produto que agrade o paladar de seus clientes.

Mudança de hábito

Na avaliação de Natal Martins, diretor de pesquisas da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic) e executivo do Café Canecão, uma das estratégias que poderá ser adotada pela indústria da torrefação será estimular o consumo entre as pessoas que já consomem café. Para Martins, conquistar 8% que não consome é mais difícil do que ampliar as vendas entre os que já tomam café, já que isso representa uma mudança de hábito importante. Um trabalho que vem sendo estudado pelo empresários é de tentar convencer os clientes já conquistados de aumentar o consumo da bebida pelas pessoas que já consomem café", diz Martins.

Segundo a pesquisa, no entanto, é possível ampliar as vendas entre os que já tomam café e diminuir a rejeição de uma só vez. A rejeição sempre se constitui num obstáculo, muitas vezes intransponível. Sempre haverá alguém que não toma café de jeito nenhum, mas rejeição pode ser atenuada com a melhoria da qualidade do produto. Com isso, será possível incorporar pessoas no hábito de tomar café.