Título: Lula dialoga firme com os...
Autor: Sergio Prado
Fonte: Gazeta Mercantil, 22/11/2004, Primeira Página, p. A1

Empresários de todos os setores estiveram em Brasília para pressionar o Congresso. Tanto Suzigan quanto Barros acompanham os movimento de grandes grupos nacionais e estrangeiros. E entendem que se Lula criar um ambiente de crescimento industrial forte, será difícil que outro nome lhe roube o apoio da iniciativa privada na corrida pelo Palácio do Planalto.

Ouvir de Lula que há firme empenho de tocar no Congresso estas propostas na área econômica soa como música aos ouvidos dos patrões, que o conhecem desde os tempos de sindicalista. Na semana passada, peso-pesados de todos os setores estiveram em Brasília para pressionar o Congresso a retomar as votações, emperradas pela disputa entre os partidos desde o pleito municipal.

Ao sair de uma reunião fechada de representantes da iniciativa privada com o ministro da Fazenda Antonio Palocci, o empresário Jorge Gerdau Johanppeter sorria como poucas vezes se viu em suas andanças na defesa da reforma tributária. Ele se dizia ainda muito satisfeito com a receptividade do homem forte da economia em relação às suas reivindicações.

"Está claro que o governo apóia (as propostas). O problema é como destravar a Câmara para votar", apontou o dono do Grupo Geradau, que coordena a Ação Empresarial, entidade do capital privado que reúne indústrias, bancos e comércio, agroindústria.

Aqui está o xis da questão. Dez em cada dez políticos e analistas afirmam que a crise no Parlamento é complicada. As divergências vêm de duas frentes: as emendas parlamentares e o projeto de mudança constitucional permite a reeleição nas Mesas do Senado e da Câmara. No cálculo da paralisia, são mais de 450 propostas e 22 medidas provisórias encalhadas

Entretanto, há saída para esta letargia, apontou o líder do governo na Casa, senador Fernando Bezerra (PTB-RN). O parlamentar entende que só a intervenção pessoal de Lula, com o respaldo de 52,8 milhões de votos pode resolver o problema político.

De nada adianta o Palácio do Planalto defender projetos e ter apoio das empresas, se dentro do Legislativo as coisas vão de mal a pior. Assim, o presidente começou a agir.

Começou pela Câmara. A caneta presidencial liberou parte do dinheiro das emendas. Em seguida, meio que aos trancos, as votações recomeçaram, com a aprovação uma medida provisória, que destina R$ 2,5 bilhões para a modernização do parque industrial. Um dia depois, o texto foi votado também no Senado.

Mesmo assim, Lula tem consciência de que só isso não basta. Político experiente, conhece o humor dos partidos e sabe que sem habilidade os projetos ficarão parados. Além disso, seu mandato tem apenas dois anos para construir alguma marca. A votação da reforma tributária, por exemplo, é polêmica e depende de emenda constitucional.

Portanto, para tirar do papel esta promessa de campanha, repetida no dia da posse, Lula precisa arrancar pelo menos 308 votos de deputados e 49 de senadores para ser aprová-la. Sem a reorganização das bancadas governistas, o projeto ficará travado na comissão especial da Câmara, onde passou o ano todo na gaveta.

Deste texto, depende a unificação do ICMS, que desemboca no Imposto de Valor Agregado, em 2007. Está na mesma proposta as isenções aos investimentos novos na indústria. O objetivo central desta idéia é dar impulso ao crescimento da produção e de novos postos de trabalho, argumentam os empresários.

Por isso, as mudanças anunciadas até agora nos ministérios vêm ao encontro de uma coalizão partidária, como adiantou o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante. Foi divulgado ainda que a base governista abrigará também o PP na Esplanada dos Ministérios. Tudo leva a crer, pelas declarações dos líders políticos do Planalto, que o PMDB terá mais espaço no governo.

Tudo para acabar com a crise dentro do Congresso, que se reflete na condução do governo todo. Se conseguir levar a bom termo a tarefa de refazer a articulação política, caberá ainda a Lula negociar rápido uma lista de projetos para votar. Isto porque o relógio do Congresso e dos empresários mostra que a hora da tomada de decisões se esgota no meio de 2005.

As cartas estão na mesa e o tempo dirá se o tom do diálogo escolhido por Lula dará resultado.

kicker: Se houver diálogo, presidente terá apoio do setor para corrida eleitoral de 2006