Título: Caminhos para o crescimento
Autor: Alfried Plöger
Fonte: Gazeta Mercantil, 22/11/2004, Opinião, p. A3

Ações engordam a poupança interna e financiam a produção. Dois indicadores distintos são congruentes quanto às alternativas do Brasil para consolidar a presente tendência de crescimento. O primeiro refere-se à informação recém-divulgada de que o lucro das companhias de capital aberto cresceu 149% no terceiro trimestre; o outro diz respeito à performance do grupo de exportação da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf), o Graphia: no primeiro semestre, as vendas externas das gráficas participantes somaram US$ 20 milhões, com acréscimo de 23% em relação a igual período do passado. Desde sua criação, em setembro de 2002, o Graphia tem colaborado para a reviravolta da balança comercial do setor, que, após uma década de déficit, teve, em 2003, superávit de US$ 73,8 milhões, e no primeiro semestre de 2004, de US$ 59,09 milhões.

Além de demonstrarem o potencial de sua economia e a insensatez de a Nação ficar patinando nos atoleiros dos juros e impostos altos, os dados convergem para questão crucial: ambas as alternativas propiciam recursos, inclusive para investimentos não-atrelados à dívida pública ou sujeitos às oscilações da Selic, TJLP e câmbio. Ou seja, exportar e deslocar o eixo do financiamento produtivo ao mercado de capitais são mesmo bons caminhos para o crescimento continuado.

O esforço no sentido de exportar, quando realizado de maneira profissional e sistemática, apresenta excelentes resultados e deve ser desenvolvido por todos os segmentos.

No que se refere ao mercado mobiliário, é importante lembrar que em numerosos países, como, por exemplo, Estados Unidos, Japão e potências européias, há plenas condições e consagrada cultura de geração de recursos para investimentos das empresas de capital aberto por meio de investidores institucionais como seguradoras, fundos de pensão e pessoas físicas via emissão de ações, debêntures e commercial papers.

Esse dinheiro, como anteriormente observado, é pouco atrelado ao fluxo especulativo internacional e desvinculado da dívida pública. Assim, em lugar de ser convertido em débitos, engorda a poupança interna e financia a produção. Além disso, constitui fundos para a aposentadoria dos trabalhadores.

Com o desenvolvimento do mercado mobiliário e das exportações, são disponibilizados recursos geradores de empregos, renda e poupança. No primeiro caso, os cidadãos compram ações e capitalizam as empresas, que investem na produção. Dessa forma, quem sabe os bons resultados das companhias de capital aberto estimulem os investidores brasileiros, dentre os quais apenas 2% aplicam em ações - nos Estados Unidos a porcentagem é de 60%.

No tocante ao mercado externo, as empresas exportadoras promovem ingresso de capital, mantêm-se produtivas, aprimoram, necessariamente, a qualidade e agregam tecnologia. Ambos os exemplos demonstram claramente existir muito mais do que juros altos, impostos exagerados e baixa liquidez como alternativas possíveis para o equilíbrio econômico e a prosperidade de uma nação.

kicker: Somente capital para investir não-atrelado à dívida pública pode sustentar o desenvolvimento